sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Por que é impossível ser católico e espírita?


Por Erimar Pontes



Certa vez, tive uma cliente (sou engenheiro civil) que contratou- me para fazer os projetos de sua casa. Após alguns dias em contanto conversávamos sobre várias outras coisas que não os projetos. Nestas conversas eu percebia a grande confusão de fé que havia naquela pessoa. Uma hora ela dizia-se católica e falava de missas, novenas, da bíblia. Outra hora ela dizia-se, também, espírita, frequentando inclusive os centros e sendo ativa nas obras filantrópicas.
Em outro momento, em conversa breve com o marido dela, sobre outros projetos, o mesmo perguntou-me se eu era espírita, ao que respondi que não, pois sou católico. Ele também, confusamente como a esposa, disse que não havia impedimento de confessar as duas fés, que na mente dele são uma só: a cristã.
A confusão destas e de outras pessoas que já encontrei nesta vida não é por eles serem espíritas ou por eles serem católicos, mas na afirmação de serem “católicos e espíritas”. Isto é, por lógica, impossível e tentarei mostrar a seguir os motivos dessa impossibilidade.
O objetivo deste texto não é mostrar quem está certo, ou se alguém está certo, mas mostrar que essas doutrinas são tão opostas que é ilógico acreditar-se em ambas.
Nas apresentações das duas doutrinas serão utilizados o Catecismo da Igreja Católica (CIC) e transcrições do site da Federação Espírita do Brasil (FEB), disponível em http://www.febnet.org.br e do site www.forumespirita.net, acessados em 12/10/2012, dentre outros que forem citados.

1 –  Jesus é Deus?
Para o catolicismo, Jesus é, inquestionavelmente, Deus. Tal doutrina tornou-se Dogma após os concílios de Nicéia (325 d.C.) e Constantinopla (381), quando foram debatidas as doutrinas arianas sobre a divindade de Cristo. Ário (daí o nome arianismo) afirmava que Deus criou a Cristo e, portanto, este não poderia ser Deus (COLLINS, M. e PRICE M. A. História do Cristianismo – 2000 anos de fé. Edições Loyola. São Paulo, 2000 - pg. 60).
Nos concílios mencionados, a Igreja finalmente resolveu a questão sobre a divindade de Jesus e a tornou artigo de fé  católica, constando assim no credo niceno-constantinopolitano:
      • Creio em um só Senhor, Jesus Cristo... Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado,consubstancial ao Pai. Por Ele todas as coisas foram feitas. E por nós, homens, e para nossa salvação, desceu dos céus (CIC, pg. 58).
Para o espiritismo, Jesus não é Deus. Tal doutrina ensina que:
      • Jesus é o guia e modelo para toda a Humanidade. E a Doutrina que ensinou e exemplificou é a expressão mais pura da Lei de Deus. A moral do Cristo, contida no Evangelho, é o roteiro para a evolução segura de todos os homens, e a sua prática é a solução para todos os problemas humanos e o objetivo a ser atingido pela Humanidade (FEB).
      • O Espiritismo apenas admite o seu caráter humano, e isso em nada pode ser tomado como absurdo. Rejeitando o dogma da divindade de Jesus, o Espiritismo nega somente o que resultou da elaboração de mentes humanas (ratificada apenas no Concílio de Nicéia, em 325 d.C.) na composição de uma teologia que expressa, nesse particular como em muitos outros, uma posição contrária ao pensamento do próprio Cristo, uma vez que ele mesmo se coloca em posição de inferioridade em relação a Deus, subordinado a Ele, e se declarando como Seu enviado (Forumespirita).
Vê-se, portanto, que o que se crê no catolicismo é exatamente o oposto do que se crê no espiritismo. Este diz daquele que sua doutrina a respeito da divindade de Jesus resultou da elaboração de mentes humanas. E continuam os espíritas:
      • Os conceitos de Deus e Jesus são no Espiritismo diferentes dos de outras doutrinas. Jesus é um dos filhos de Deus. Um entre os Cristos do Universo que cuidam dos mundos. Não foi Deus que veio à Terra encarnado, mas Jesus, um dos seus mais competentes auxiliares. http://www.caminhosluz.com.br/detalhe.asp?txt=2963.
Como mostrado, o catolicismo ensina exatamente o contrário: Jesus É O DEUS ENCARNADO (descido dos céus, como reza o Credo).
Quem está certo? Quem está errado? Como dito, não  é objetivo deste texto debater isto, mas cumprindo seu objetivo, mostra-se aqui o primeiro paradoxo do “católico-espírita”: Afinal, você crê que Jesus é Deus, como ensina o catolicismo, ou crê que Jesus não é Deus, como ensina o espiritismo?
É contra a razão crer-se em duas afirmações contrárias. Portanto, é da mesma forma contra a razão dizer-se católico-espírita.

2 –  Deus é trino?
O catolicismo ensina que Deus é um só em três pessoas distintas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. É o que os católicos chamam de Santíssima Trindade. Complementando o Credo exposto na pergunta anterior, o catolicismo diz no mesmo Credo, a respeito da terceira pessoa da Trindade:
      • Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida e procede do Pai e do Filho; e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado. Ele que falou pelos profetas (CIC, pg. 59).
Afirma ainda o catolicismo sobre a Trindade:
      • A Trindade é Una. Não professamos três deuses, mas um só Deus em três pessoas: “a Trindade consubstancial”. As pessoas divinas não dividem entre si a única divindade, mas cada uma delas é Deus por inteiro: “O Pai é aquilo que é o Filho, o Filho é aquilo que é o Pai, o Espírito Santo é aquilo que são o Pai e o Filho, isto é, um só Deus por natureza. Cada uma das três pessoas é esta realidade, isto é, a substância, a essência ou a natureza divina. (CIC, 253).
Da pergunta anterior, já se conclui que Deus não é trino para o espiritismo, uma vez que, para esta doutrina, Jesus não é Deus. Ela diz ainda que:
      • “O Espiritismo realiza o que Jesus disse do Consolador prometido: conhecimento das coisas, fazendo que o homem saiba donde vem, para onde vai e por que está na Terra” (FEB).
      • 312  Como interpretar a afirmativa de João: - “Três são os que fornecem testemunho no céu: o Pai, o Verbo e o Espírito Santo?”  João referia-se ao Criador, a Jesus, que constituía para a Terra a sua mais perfeita personificação, e à legião dos Espíritos redimidos e santificados que cooperam com o Divino Mestre, desde os primeiros dias da organização terrestre, sob a misericórdia de Deus. http://www.institutoandreluiz.org/textos_espiritas.html
Portanto, para o espiritismo, com doutrina oposta à católica, Deus não é trino. Afirma ainda que, o Espírito Santo, que no catolicismo é uma das pessoas da Trindade, portanto Criador junto com o Pai e o Filho, adorado da mesma forma que Eles, é, na verdade, a legião dos Espíritos redimidos e santificados, fazendo o espiritismo o que Cristo disse do Consolador, que para o catolicismo é a Terceira Pessoa da Trindade.
Como crer que Deus é Trino e não é Trino ao mesmo tempo? Como acreditar no catolicismo e no espiritismo ao mesmo Tempo? Como dizer-se católico-espírita?

3 – A Queda
Para o catolicismo, Deus criou anjos (seres espirituais) e homens (seres carnais e espirituais) sendo bons em sua natureza, mas que se tornaram maus por sua própria iniciativa.
Sobre a queda dos anjos, diz o Catecismo:
      • A Escritura fala de um pecado desses anjos. Esta queda, consiste na opção livre destes espíritos criados que rejeitaram radical e irrevogavelmente a Deus e seu Reino (CIC, 392).
      • É o caráter irrevogável de sua opção, e não uma deficiência da misericórdia divina, que faz com que o pecado dos anjos não possa ser perdoado. Não existe arrependimento para eles depois da queda, como não existe para os homens após a morte (CIC, 393).
Sobre a queda do homem, diz o Catecismo:
      • O homem, tentado pelo Diabo (um anjo decaído) deixou morrer em seu coração a confiança em seu Criador e, abusando de sua liberdade, desobedeceu ao mandamento de Deus. Foi nisto que consistiu o primeiro pecado do homem. Todo pecado daí em diante será uma desobediência a Deus e uma falta de confiança em sua bondade (CIC, 397).
      • Constituído em um estado de santidade, o homem estava destinado a ser plenamente divinizado por Deus na glória. Pela sedução do Diabo, quis ser como Deus, mas sem Deus, e antepondo-se a Deus, e não segundo Deus. Adão e Eva perdem de imediato a graça da santidade original. A harmonia com a criação está rompida. Por causa do homem a criação está submetida à servidão da corrupção. O homem voltará ao pó do qual é formado. A morte entra na história da humanidade (CIC, 398, 399 e 400).
      • Todos os homens estão implicados no pecado de Adão. São Paulo afirma: pela desobediência de um só homem todos se tornaram pecadores. Como por meio de um só homem o pecado entrou no mundo e, pelo pecado a morte, assim a morte passou para todos os homens, porque todos pecaram (CIC, 402).
      • O gênero humano inteiro é em Adão como um só corpo de um só homem. Em virtude desta unidade do gênero humano, todos os homens estão implicados no pecado de Adão, como todos estão implicados na justiça de Cristo... Adão havia recebido a santidade e a justiça originais não exclusivamente para si, mas para toda a natureza humana. Ao ceder ao Tentador, Adão e Eva cometem um pecado pessoal, mas este pecado afeta a natureza humana que vão transmitir em um estado decaído. É um pecado que será transmitido por propagação à humanidade inteira, isto é, pela transmissão de uma natureza humana privada da santidade e da justiça originais. E é por isso que o pecado original é denominado pecado de maneira analógica: é um pecado contraído e não cometido, um estado e não um ato (CIC, 404).
Diferentemente do catolicismo, o espiritismo ensina que:
      • Os Espíritos são criados simples e ignorantes. Evoluem, intelectual e moralmente, passando de uma ordem inferior para outra mais elevada, até a perfeição, onde gozam de inalterável felicidade (FEB).
Assim, não houve a Queda da humanidade, e, portanto, na contramão do que ensina o catolicismo, não houve o Pecado Original que é transmitido a todo o gênero humano.
Os dons preternaturais que a humanidade perdeu com a Queda, na doutrina católica, nunca existiram para a doutrina espírita. Para estes, os Espíritos são criados simples e ignorantes.
A Queda é uma das doutrinas centrais do catolicismo, o que explica, inclusive, a encarnação do Cristo. Oras, se não se acredita na Queda, não pode dizer-se católico. Quem assim o faz, certamente o faz por ignorância, por não saber o que se ensina numa doutrina e noutra.
É a Queda que explica o mal no mundo para o catolicismo. Para o espiritismo, é o carma que os espíritos ignorantes trazem de vidas passadas.
Se houve a Queda ou se os espíritos são criados simples e ignorantes, não é este texto quem responderá. Mas é impossível afirmar que houve E que não houve a Queda.
Impossível mesmo é ser católico-espírita.

4 – Para que serviu o sacrifício de Cristo?
Para o catolicismo, Cristo veio trazer a verdadeira religião, ou seja, e verdadeira via de ligação do homem decaído a Deus. Por isto, a Igreja afirma que:
      • Retomando a expressão de São João (O Verbo se fez carne), a Igreja denomina Encarnação” o fato de o Filho de Deus ter assumido uma natureza humana para realizar nela a nossa salvação (CIC, 461).
      • Este projeto divino de salvação mediante a morte do Servo, o Justo, havia sido anunciado antecipadamente na Escritura como um mistério de redenção universal, isto é, de resgate que liberta os homens da escravidão do pecado. Cristo morreu por nossos pecados segundo as Escrituras (CIC, 601).
      • Os pecados dos homens, depois do pecado original, são sancionados pela morte. Ao enviar seu próprio Filho na condição de escravo, condição de uma humanidade decaída e fadada à morte por causa do pecado, Aquele que não conhecera o pecado, Deus o fez pecado por causa de nós, a fim de que, por ele, nos tornemos justiça de Deus (CIC, 602).
      • A morte de Cristo é ao mesmo tempo o sacrifício pascal, que realiza a redenção definitiva dos homens, pelo cordeiro que tira o pecado do mundo, e o sacrifício da Nova Aliança, que reconduz o homem à comunhão com Deus, reconciliando-o com ele pelo sangue derramado por muitos para a remissão dos pecados (CIC, 613).
É, portanto, para o catolicismo, a morte de Cristo, verdadeira religião e única forma de ligação do homem decaído pelo pecado a Deus.
O espiritismo sequer se considera religião, embora o seja, pois religião (do latim religare) é um conjunto de doutrinas e/ou ritos sob os quais o crente está submetido a fim de agradar a Deus (é o que se pretende no espiritismo quando este ensina doutrinas para que o homem de espírito simples e ignorante evolua até ser puro espírito cumprindo assim a vontade de Deus). O espiritismo diz dele mesmo que:
      • “O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal.” Pode e deve ser estudado, analisado e praticado em todos os aspectos fundamentais da vida, tais como: científico, filosófico, religioso, ético, moral, educacional, social (FEB).
 Talvez daí, achem alguns que podem ser católicos e espíritas, pois o espiritismo pode ser estudado, analisado e praticado dentro da religião, inclusive, o catolicismo, uma vez que ele se define como uma ciência. Difícil mesmo, como mostrado até aqui e como o será mais adiante, é conviver racionalmente com tantas contradições destas duas opostas doutrinas.

Já que o espiritismo não se diz religião, apesar de sê-lo, voltemos à pergunta “para que serviu o sacrifício de Cristo?”. No catolicismo, viu-se que este serviu para remir a humanidade que foi desligada de Deus pela Queda original. Esta religação (religião) foi feita pelo Cristo, por meio de seu puro sangue “derramado em favor de muitos para a remissão dos pecados”. Esta doutrina é tão fundamental ao católico que, o centro da vida litúrgica católica é a Santa Missa, ou seja, a renovação do Sacrifício de Cristo. É o que os católicos celebram, ao menos, todos os domingos.

Opostamente ao que diz o catolicismo, o espiritismo ensina que:
      • Os judeus acreditavam em sacrifícios de animais para a expiação de pecados (ler o Levítico). Esses holocaustos visavam o resgate de pecados pessoais e também de pecados coletivos. Mas não eram somente os judeus, praticamente todos os povos antigos praticavam sacrifícios. É imbuído desse pensamento que o profeta Isaías, ao receber do plano espiritual superior a visão profética, compreende o sacrifício futuro do Messias: como um cordeiro que será sacrificado em resgate coletivo. E essa mesma ideia será retomada pelos apóstolos principalmente Paulo, o que é bastante compreensível visto que no seu tempo ainda se realizavam sacrifícios no templo de Jerusalém. 
      • Assim sendo, o sacrifício de Jesus foi necessário apenas como um meio de chegar ao coração de pessoas ainda nos estágios da barbárie e da violência e que ainda não compreenderiam uma salvação sem um holocausto, apesar dos vários esclarecimentos da espiritualidade superior nas mesmas páginas do Antigo Testamento, exortando a substituírem-se os holocaustos pela prática do amor ao próximo, ensinamento que logicamente não foi compreendido. http://jeflemos.wordpress.com. O Sacrifício de Jesus e a Reencarnação.
Ou seja, como o homem não conseguiria, pelo estado evolutivo em que se encontrava, compreender uma salvação sem sacrifício, foi necessário que o Cristo morresse. Apenas isto.
      • De acordo com os cânones religiosos, Jesus é o Espírito mais elevado que já reencarnou neste Planeta de provas e expiações. Pode-se dizer que era médium de Deus. Tinha a missão de dirigir os destinos da Terra. Para isso, era preciso mudar o nível mental dos seus habitantes. Por isso, não perdeu nenhuma oportunidade de nos passar um ensinamento, para que pudéssemos adentrar em uma nova forma de vida, a verdadeira vida, ou seja, a vida espiritual. A Sua morte na Cruz representa o móvel da redenção da Humanidade. Por isso, dizemos que Ele é o "Mestre por excelência: ofereceu-se-nos por amor, ensinou até o último instante de sua vida, fez-se o exemplo permanente em nossos corações e nos paroxismos da dor, pregado no madeiro ignominioso, perdoou-nos as defecções de maus aprendizes".
De forma mais contraditória ao catolicismo:
Creia você no que quiser. Mas crer que o sangue de Jesus remiu os pecados do mundo e ao mesmo tempo crer que ele não remiu passa a ser, após esta leitura, desonestidade intelectual. Não acreditar no sacrifício redentor de Cristo e ir à Missa é tão surreal quanto um militante comunista ir lanchar no Mc Donalds. Não consigo crer que quem assim age saiba de verdade o que está fazendo, ou do que está participando.

5 – Ressurreição ou reencarnação?
Assim diz o Credo católico: “Creio na ressurreição da carne ou “Espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há de vir”.
Com este artigo de fé, o catolicismo ensina que o homem, tendo sido separado espiritualmente de sua carne por ocasião da morte, haverá de unir-se a ela por ocasião da segunda vinda de Cristo.
A fé católica na ressurreição dos mortos está embasada primeiramente na fé que eles têm a respeito da ressurreição de Jesus que ressurgiu dos mortos ao terceiro dia de sua morte na cruz. Para eles, Cristo ressuscitou na carne, num corpo glorioso, não mais sujeito às leis naturais. Crêem os católicos que terão seus corpos também transformados, como o Cristo, quando da ressurreição dos mortos Naquele dia.
O Catecismo diz o seguinte a respeito da ressurreição de Cristo:
      • A Ressurreição de Jesus é a verdade culminante de nossa fé em Cristo, crida e vivida como verdade central pela primeira comunidade cristã, transmitida como fundamental pela Tradição, estabelecida pelos documentos do Novo Testamento, pregada, juntamente com a cruz, como parte essencial do Mistério Pascal. Cristo ressuscitou dos mortos; por sua morte venceu a morte; aos mortos deu a vida” (CIC, 638).
      • Jesus ressuscitado estabelece com seus discípulos relações diretas em que estes o apalpam e com Ele comem. Convida-os com isto a reconhecer que Ele não é um espírito, mas sobretudo a constatar que o corpo ressuscitado com o qual Ele se apresenta a eles é o mesmo que foi martirizado e crucificado, pois ainda traz marcas de sua paixão. Contudo, este corpo autêntico e real possui, ao mesmo tempo, as propriedades novas de um corpo glorioso: não está mais situado no espaço e no tempo, mas pode tornar-se presente a seu modo, onde e quando quiser, pois sua humanidade não pode mais ficar presa à terra, mas já pertence exclusivamente ao domínio divino do pai (CIC, 645).
      • Cristo, primogênito dentre os mortos, é o princípio de nossa própria ressurreição, desde já pela justificação de nossa alma, mais tarde pela vivificação de nosso corpo (CIC 651 e 658).
E sobre a ressurreição dos homens, diz:
      • Cremos firmemente  e assim esperamos  que, da mesma forma que Cristo ressuscitou verdadeiramente dos mortos, e vive para sempre, assim também, depois da morte, os justos viverão para sempre com Cristo ressuscitado e que Ele os ressuscitará no último dia. Como a ressurreição de Cristo, também a nossa será obra da Santíssima Trindade: Se o espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos habita em vós, aquele que ressuscitou Cristo Jesus dentre os mortos dará vida também aos vossos corpos mortais, mediante o seu Espírito que habita em vós (CIC, 989).
      • Como podem alguns dentre vós dizer que não  ressurreição dos mortos? Se não  ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou, e, se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa pregação, vazia também a vossa fé. Mas não! Cristo ressuscitou dos mortos, primícias dos que adormeceram (1 Cor 15,12-14.20).
      • Pela morte, a alma é separada do corpo, mas na ressurreição Deus restituirá a vida incorruptível ao nosso corpo transformado, unindo-o novamente à nossa alma. Assim como Cristo ressuscitou e vive para sempre, todos nós ressuscitaremos no último dia (CIC, 1016).
O espiritismo não crê na ressurreição da carne, como o crê o catolicismo. Aquele ensina que:
      • Os Espíritos reencarnam tantas vezes quantas forem necessárias ao seu próprio aprimoramento. Os Espíritos evoluem sempre. Em suas múltiplas existências corpóreas podem estacionar, mas nunca regridem. A rapidez do seu progresso intelectual e moral depende dos esforços que façam para chegar à perfeição (FEB).
      • Chega enfim um dia em que o espírito, após haver percorrido o ciclo de suas existências planetárias e ser purificado por seus renascimentos e suas migrações através os mundos,  cerrar a série de suas encarnações e se abrir a vida espiritual definitiva, a verdadeira vida da alma, onde o mal, a sombra e o erro estão banidos. Então, as últimas influências materiais se esvaneceram. A calma, a serenidade e a segurança profunda substituíram as aflições e as inquietudes de outrora. A alma atingiu o termo de suas provas; está assegurada de não mais sofrer (forumespirita).
Em complemento à questão 4, a Santa Missa é o Memorial da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Oras, crê-se no catolicismo que Cristo ressuscitou na carne e que, também na carne, ressuscitará os membros da Igreja que alcançarem a salvação. Como conformar esta doutrina católica à doutrina da reencarnação?
Você, “católico-espírita”, pode explicar a si mesmo como uma pessoa pode vir a ressuscitar na carne e tornar-se espírito puro?
Pode explicar a si mesmo como é possível ressuscitar de uma vez por todas e reencarnar tantas vezes?
Pode dizer como é possível crer que o homem vive uma vez só, sendo julgado quando morre e ao mesmo tempo crer que não há julgamento definitivo, pois o homem reencarna tantas vezes até atingir a perfeição espiritual?
Consegue agora concluir que não há possibilidade lógica de crer no catolicismo e no espiritismo ao mesmo tempo? E que, portanto, não é possível ser católico e espírita?
Ou ressuscitaremos na carne ou reencarnaremos até tornamo-nos puros espíritos, libertando-nos da carne. Que as duas coisas ocorram é contra a razão.

6 – O mundo espiritual
Para o catolicismo, ao morrer o homem entra em juízo particular diante de Deus, quando é julgado merecedor da felicidade eterna, que é a visão beatífica de Deus, ou da condenação eterna, longe da fonte da felicidade, pelas escolhas livres que fez em vida.
O catolicismo ainda ensina que as almas dos salvos que morreram em pecados veniais, portanto, que não receberam o sacramento da reconciliação e nem fizeram perfeita contrição antes da morte, passam por um estado de purificação antes de entrarem no céu.
Há, portanto, para o catolicismo, três estados em que a alma humana se encontra após a morte: céu, inferno e, temporariamente, o purgatório.
Também ensina esta religião que a Igreja, que é o corpo de Cristo, existe em três realidades distintas: a Igreja militante, formada pelos batizados que ainda vivem na terra; a Igreja padecente, formada pelos salvos que ainda se encontram no purgatório, e pela Igreja triunfante, formada pelos que já gozam da glória eterna e têm a visão beatífica de Deus.
Assim diz o catecismo sobre o céu, o purgatório e o inferno:
      • A morte põe fim à vida do homem como tempo aberto ao acolhimento ou à recusa da graça divina manifestada em Cristo (CIC, 1021).
      • Cada homem recebe em sua alma imortal a retribuição eterna a partir do momento da morte, num juízo particular que coloca sua vida em relação à vida de Cristo, seja por meio de uma purificação, seja para entrar de imediato na felicidade do céu, seja para condenar-sede imediato para sempre (CIC, 1022).
      • Os que morrem na graça e na amizade de Deus, e que estão totalmente purificados, vivem para sempre com Cristo. São para sempre semelhantes a Deus, porque o vêem tal como Ele É, face a face (CIC, 1023).
      • Essa vida perfeita com a Santíssima Trindade, essa comunhão de vida e de amor com Ela, com a Virgem Maria, os anjos e todos os bem-aventurados, é denominada “o Céu”. O céu é o fim último e a realização das aspirações mais profundas do homem, o estado de felicidade suprema e definitiva (CIC, 1024).
      • Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão completamente purificados, embora tenham garantida sua salvação eterna, passam após sua morte, por uma purificação, a fim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do céu. A Igreja denomina Purgatório a esta purificação final dos eleitos, que é completamente distinta do castigo dos condenados (CIC, 1030 e 1031).
      • Não podemos estar unidos a Deus se não fizermos livremente a opção de amá-lo. Mas não podemos amar a Deus se pecamos gravemente contra Ele, contra nosso próximo ou contra nós mesmos... Morrer em pecado mortal, sem ter-se arrependido dele e sem acolher o amor misericordioso de Deus significa ficar separado do Todo-Poderoso para sempre, por nossa própria opção livre. E é deste estado de auto-exclusão definitiva da comunhão com Deus e com os bem-aventurados que se designa com a palavra “inferno”(CIC, 1033).
      • O ensinamento da Igreja afirma a existência e a realidade do inferno. As almas dos que morrem em estado de pecado mortal descem imediatamente após a morte aos infernos, onde sofrem as penas do inferno, o fogo eterno. A pena principal do inferno consiste na separação eterna de Deus, o único em quem o homem pode ter a vida e a felicidade para as quais foi criado e às quais aspira. Deus não predestina ninguém ao inferno, para isso é preciso uma aversão voluntária a Deus (um pecado mortal) e persistir nela até o fim(CIC, 1035 e 1037).
Sobre a Igreja e a comunhão dos santos, o Catecismo diz:
      • Até que o Senhor venha em sua majestade... alguns dentre os seus discípulos peregrina na terra; outros, terminada esta vida, são purificados; enquanto outros são glorificados, vendo claramente o próprio Deus trino e uno, assim como É (CIC, 954).
      • A união dos que estão na terra com os irmãos que descansam na paz de Cristo de maneira alguma se irrompe; pelo contrário, segundo a fé perene da Igreja, vê-se fortalecida pela comunicação dos bens espirituais (CIC, 955).
      • Cremos na comunhão de todos os fiéis de Cristo, dos que são peregrinos na terra, dos defuntos que estão terminando a sua purificação, dos bem-aventurados do céu, formando, todos juntos, uma só Igreja, e cremos que nesta comunhão o amor misericordioso de Deus e de seus santos está sempre à escuta de nossas orações (CIC, 962).
Para o espiritismo, não existe a Igreja triunfante, padecente e militante, como o crê o catolicismo. Os espíritas crêem que:
      • Além do mundo corporal, habitação dos Espíritos encarnados, que são os homens, existe o mundo espiritual, habitação dos Espíritos desencarnados. Eles estudam, trabalham e desenvolvem diversas atividades no mundo espiritual (FEB).
      • Os Espíritos são as almas dos homens que já perderam o corpo físico. A exemplo do que observamos na Humanidade encarnada, o conhecimento que eles têm é correspondente ao seu grau de adiantamento moral e intelectual. A morte é uma passagem para a vida espiritual e não  valores morais ou de inteligência a quem não os tem (FEB).
      • Os Espíritos pertencem a diferentes ordens, conforme o grau de perfeição que tenham alcançado: Espíritos Puros, que atingiram a perfeição máxima; Bons Espíritos, nos quais o desejo do bem é o que predomina; Espíritos Imperfeitos, caracterizados pela ignorância, pelo desejo do mal e pelas paixões inferiores (FEB).
      • O espírito adiantado está liberto de todas as necessidades corporais. A alimentação e o sono não têm para ele nenhuma razão de ser. Ele deixa para sempre, ao sair da Terra, as vãs inquietações, os sobressaltos e todas as quimeras que envenenam a existência aqui em baixo. Os espíritos inferiores levam com eles, para o lado de lá do túmulo, seus hábitos, suas necessidades e suas preocupações materiais. Não podendo se elevar acima da atmosfera terrestre, eles voltam para compartilhar da vida dos humanos, misturar-se em suas lutas, em seus trabalhos e em seus prazeres. Suas paixões e seus apetites, sempre despertos, super excitados pelo contínuo contacto da humanidade, os sobrecarregam, e a impossibilidade de os satisfazer torna-se para eles uma causa de torturas (fórumespirita).
Oras, se não há a Igreja nos três estados, como crê o catolicismo, também não há a comunhão dos santos e nem a intercessão entre eles. E se não se crê nestas coisas, certamente não se é católico, pois são artigos de fé do Credo católico.
E se, no catolicismo crê-se no inferno como condenação eterna, no espiritismo crê-se exatamente o oposto:
      • Interroguem seu bom senso, sua razão, e perguntem se uma condenação perpétua por alguns momentos de erro não seria a negação da bondade de Deus? Que é, com efeito, a duração da vida, fosse ela de cem anos, com relação à eternidade? Eternidade! Compreendem bem essa palavra? Sofrimentos, torturas sem fim, sem esperança, por algumas faltas! Seu julgamento não recusa um tal pensamento? Que os antigos tivessem visto no mestre do universo um Deus terrível, ciumento e vingativo, se concebe; na sua ignorância, emprestaram à divindade as paixões dos homens; mas esse não é o Deus dos cristãos, que coloca o amor, a caridade, a misericórdia, o esquecimento das ofensas na categoria das primeiras virtudes: poderia Ele mesmo falhar nas qualidades das quais fez um dever? Não  contradição em lhe atribuir a bondade infinita e a vingança infinita? Vocês dizem que antes de tudo Ele é justo, e que o homem não compreende sua justiça; mas a justiça não exclui a bondade, e Ele não seria bom se consagrasse a penas horríveis e perpétuas, a maior parte de suas criaturas. Poderia Ele impor aos seus filhos a justiça como uma obrigação, se não lhes tivesse dado os meios de a compreender? Além disso, não é uma sublime justiça, unida à bondade, fazer depender dos esforços do culpado para se melhorar a duração das penas? Aí está a verdade destas palavras: «A cada um segundo as suas obras».
      • O paraíso e o inferno não existem em lugares circunscritos: eles representam o estado de consciência do Espírito segundo o bem ou o mal que realizou.
      • Nenhuma pena é eterna. Não depende senão da vontade do Espírito melhorar sua condição  ( O Evangelho Segundo o Espiritismo).

Diz-se então no espiritismo que não pode haver condenação eterna por ser esta uma negação da bondade de Deus, o qual não poderia, por tornar-se terrível, ciumento e vingativo, conceber uma condenação perpétua por alguns momentos de erro, por algumas faltas. Para o catolicismo, a condenação eterna não é dada por Deus, mas conquistada pelo próprio homem que, com sua liberdade de escolha (livre arbítrio), resolve dizer não ao amor de Deus e, portanto, acabando por dizer não à felicidade eterna e ao fim para o qual sua alma foi criada, estando sua alma eternamente condenada ao que o catolicismo chama de inferno, ausência total de Deus. Não é por erros ou por faltas, mas pela resposta que se deu livremente ao chamado de Deus.
As duas religiões têm doutrinas bem diferentes, hein? E mais uma vez, repetindo que não é objetivo deste texto dizer qual das duas está correta, ou se há uma correta, pergunto: Como duas doutrinas tão opostas podem ser comportadas dentro de um mesmo cérebro?
Como crer-se racionalmente no catolicismo e no espiritismo ao mesmo tempo?
Como dizer-se católico e espírita?

7 – A fé e as obras.
No catolicismo crê-se que a salvação se conquista pela fé  em Cristo e no que ensina Sua Igreja, No entanto, está fé  é complementada pelas obras, afim de que não seja uma fé  morta. Segundo São Tiago, somos justificados pelas obras e não somente pela fé, complementando o que diz São Paulo que somos salvos pela graça mediante a fé, e isto não vem de nós, é dom de Deus.
O católico crê ainda que os méritos que ele possa conquistar estão submetidos aos méritos de Cristo, o qual é responsável, através da graça, pela oportunidade do fiel exercer a Caridade.
Segundo o Catecismo:
      • O mérito do homem diante de Deus, na vida cristã, provém do fato de que Deus livremente determinou associar o homem à obra de sua graça. A ação paternal de Deus vem em primeiro lugar por seu impulso, e o livre agir do homem, em segundo lugar, colaborando com Ele, de sorte que os méritos das boas obras devem ser atribuídos à graça de Deus, primeiramente, e só em segundo lugar ao fiel. O próprio mérito do homem cabe, aliás, a Deus, pois suas boas ações procedem, em Cristo, das inspirações e do auxílio do Espírito Santo (CIC, 2008).
      • Os méritos de nossas obras são dons da bondade divina. A graça veio primeiro; agora se entrega aquilo que é devido... Os méritos são dons de Deus (CIC, 2009).
Sobre as virtudes teologais:
      • A fé é a virtude teologal pela qual cremos em Deus e em tudo o que nos disse e revelou, e que a Santa Igreja nos propõe para crer, porque Ele é a própria verdade. Pela fé, o homem livremente se entrega todo a Deus. O justo viverá pela fé. A fé viva age pela caridade. (CIC, 1814).
      • Mas é morta a fé sem obras. Privada da esperança e do amor (caridade), a fé não une plenamente o fiel a Cristo e não faz dele um membro vivo de seu corpo (CIC, 1815).
      • A caridade (diferente da filantropia) é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas, por si mesmo, e a nosso próximo como a nós mesmos, por amor de Deus (CIC, 1822).
      • “Se não tivesse a caridade, isso nada me adiantaria”. A caridade é superior a todas as virtudes. É a primeira das virtudes teologais:“Permanecem a fé, a esperança e a caridade. A maior delas, porém, é a caridade (CIC, 1826).
Que não se confunda, pois, superioridade com suficiência. Assim como a fé, sem obras é morta e “não une plenamente o fiel a Cristo”, a Caridade, sem a fé e a esperança, é mera filantropia e da mesma forma não os une. Por isto ensina o Concílio de Trento (1543-1563):
      • 795. Embora tenha ele morrido por todos (2 Cor 5, 15), não obstante nem todos recebem o benefício de sua morte, mas somente aqueles aos quais é comunicado o merecimento de sua Paixão. Porque assim como os homens de fato não haveriam de nascer na injustiça, se não tivessem tido origem em Adão  pois, por meio dele e em conseqüência desta origem contraem na conceição a injustiça que lhes é própria– assim também jamais seriam justificados, se não renascessem em Cristo [cân. 2 e 10]. Pois é por este renascimento, em virtude do mérito da Paixão, que a graça, por meio da qual são justificados, lhes é concedida. Por este benefício o Apóstolo exorta a rendermos sempre graças ao Pai, que nos fez dignos de participar da sorte dos santos na luz (Col 1, 12) e nos tirou do poder das trevas e nos transferiu ao reino de seu amado Filho, no qual temos redenção e remissão dos pecados (Col 1, 13 s).
      • 796. Nestas palavras se descreve a justificação do pecador, como sendo uma passagem daquele estado em que o homem, nascido filho do primeiro Adão, [passa] para o estado de graça e de adoção de filhos (Rom 8, 15) de Deus por meio do segundo Adão, Jesus Cristo, Senhor Nosso.  Esta transladação, depois da promulgação do Evangelho, não é possível sem o lavacro da regeneração [cân. 5 sobre o Batismo] ou sem o desejo do mesmo, segundo a palavra da Escritura: se alguém não tiver renascido da água e do Espírito Santo, não poderá entrar no reino de Deus (Jo 3, 5).
      • 800. Assim, ninguém pode ser justo, senão aquele a quem se comunicam os merecimentos da Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo. Mas isto assim sucede nesta justificação do pecador, precisamente pelo fato de o amor de Deus se difundir pelo Espírito Santo, por forçados merecimentos desta sagrada Paixão, nos corações (Rom 5, 5) dos que são justificados, aderindo-lhes intimamente [cân. 11]. Por isso, na justificação é infundido no homem por Jesus Cristo, a quem está unido, ao mesmo tempo, tudo isto: fé, esperança e caridade. Porque a fé nem une perfeitamente com Cristo, nem faz membro vivo de seu corpo, se não se lhe ajuntarem a esperança e a caridade. Daí a razão de se dizer com toda a verdade: a fé, sem obras, é morta (Tgo 2, 17 ss) e ociosa [cân. 19];
      • 810. Não se deve, todavia, omitir o seguinte: Embora na Sagrada Escritura se atribua tão grande valor às boas obras, que Cristo prometeu: Quem oferecer um copo de água fresca a um destes pequeninos, em verdade não ficará sem a sua recompensa (Mt 10, 14); e o Apóstolo testifique: O que presentemente é para nós uma tribulação momentânea e ligeira, produz em nós um peso de glória (2 Cor 4, 17);contudo, longe esteja o cristão de confiar ou se gloriar em si mesmo e não no Senhor (l Cor l, 31; 2 Cor 10, 17), cuja bondade é tanta para com todos os homens, que ele quer que estes seus próprios dons se tornem merecimentos deles [cân. 32].
Portanto, para o católico, a salvação e os meios para adquiri-la são exclusivamente fruto da graça divina, seja a fé, seja a esperança, seja a caridade, unidos à livre escolha do homem em acolhê-los.
No espiritismo, não são necessárias fé e obras como meios de salvação, como ensina o catolicismo.
No livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, no capitulo XV, Allan Kardeck (pai do espiritismo) ensina que a salvação depende exclusivamente da caridade:
      • “Meus filhos, na máxima: Fora da caridade não   salvação, estão encerrados os destinos dos homens, na Terra e no céu; na Terra, porque à sombra desse estandarte eles viverão em paz; no céu, porque os que a houverem praticado acharão graças diante do Senhor (pg. 251).
Negando inclusive o dogma católico de que “Fora da Igreja não há salvação” Allan Kardeck ensina que só as obras podem elevar o espírito a um nível superior, independente da fé do mesmo.
O Concílio de Trento ainda elaborou alguns cânones sobre o que se crê hoje no espiritismo, mesmo tendo tal concílio, ocorrido séculos antes desta nova “religião:
      • 811. Cân. 1. Se alguém disser que o homem pode ser justificado perante Deus pelas suas obras, feitas ou segundo as forças da natureza, ou segundo a doutrina da Lei, sem a graça divina [merecida] por Jesus Cristo  seja excomungado. [cfr. n° 793 s].
      • 820. Cân. 10. Se alguém disser que os homens são justificados sem a justiça de Cristo, pela qual ele mereceu por nós; ou que é por ela mesma que eles são formalmente justos  seja excomungado [cfr. n° 795, 799].
A Igreja, ainda ensina que os sacramentos, para os cristãos, são NECESSÁRIOS à salvação (CIC, 1129). Como acreditar nisto e, ao mesmo tempo, crer que a salvação é alcançada somente pelas obras, por mérito próprio?
Como ser salvo? Só pela fé, como ensinam os protestantes? Só pelas obras, como ensinam os espíritas? Por ambas, como ensinam os católicos?
Este texto não tem razão de ser senão para responder a outra pergunta: Como crer, ao mesmo tempo, que a salvação é exclusivamente pelas obras e que também é necessária a fé em complemento às obras?
Você percebe que não há como, racionalmente, crer nas duas doutrinas?
Acreditas que fora da Igreja não há salvação ou que fora da caridade não há salvação?
A resposta que dás te diz em que crês. E no que crês, deves concordar que não é num catolicismo-espírita.

8 - Os Espíritas e a Igreja
Em 1953 a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil reafirmou o que afirmara em 1915 e em 1948:
"Os espíritas devem ser tratados, tanto no foro interno como no foro externo, como verdadeiros hereges e fautores de heresias, e não podem ser admitidos à recepção dos sacramentos, sem que antes reparem os escândalos dados, abjurem o espiritismo e façam a profissão de fé."
Segundo a Lei da Igreja, "chama-se heresia a negação pertinaz, após a recepção do batismo, de qualquer verdade que se deve crer com fé divina e católica, ou a dúvida pertinaz a respeito dela" (CDC cân . 751).
Ora, "o herege incorre automaticamente em excomunhão" (CDC cân . 1364 §1), ou seja, deve ser excluído da recepção dos sacramentos (cân . 1331 §1), não pode ser padrinho de batismo (cân . 874), nem de crisma (cân . 892) e não pode casar na Igreja sem licença especial do bispo (cân . 1071) nem ser membro de associação ou irmandade católica (cân . 316).
Oras, se por excomunhão, não se é mais católico, uma vez que o membro é desligado do corpo de Cristo, como pode afirmar-se católico-espírita. Este termo é tão pejorativo quanto “católicas pelo direito de decidir”.
Para a Igreja não há católico-espírita. Espero que após a leitura destas doutrinas tão opostas, tenhas chegado à mesma conclusão.

Conclusões
Nota-se, pelo exposto (e são só algumas contradições doutrinárias, muitas outras foram identificadas durante minhas leituras de escritos espíritas e católicos) que o espiritismo e o catolicismo não têm muito (para não dizer “nada”) em comum. Pelo contrário, estas religiões caminham na contramão uma da outra, e o que segue na contramão, ou seja, na direção oposta, não leva ao mesmo lugar, mas a um lugar totalmente oposto e distante um do outro.
Portanto não dá para ser católico e espírita. Essa dicotomia é tão ilógica quanto acreditar que existe um gay que é  heterossexual. O heterossexual é o animal que tem atração por animais da mesma espécie e de sexo EXCLUSIVAMENTE oposto ao seu. O homossexual, do contrário, tem atração pelos do mesmo sexo. Há  ainda os bissexuais, que não se importam com o sexo do parceiro, mas estes, certamente, não são heterossexuais. Ora, declarar-se gay e heterossexual é uma afirmação absurda e ilógica, que revela a confusão do afirmador sobre si mesmo. Da mesma forma, declarar-se espírita e católico é ilógico e confuso justamente por serem doutrinas muito diferentes, opostas umas às outras, como apresentado.
Aos espíritas, que sejam espíritas e declarem-se espíritas sem vergonha de sê-lo. Aos católicos, que sejam católicos e declarem-se católicos sem vergonha de sê-lo. No nosso país ainda são permitidas as expressões de fé. Mas declarar-se as duas coisas, tão opostas uma da outra, não é permitido pela própria lógica. Isso fere a razão, inclusive a coletiva. Quando se faz isto, ou se faz por ignorância ou por desonestidade intelectual. O primeiro caso é fácil de resolver, o segundo é impossível.
Como disse Chesterton: “O que conclui, cala”. Concluo aqui.