Por Erimar Pontes
Certa vez, tive uma cliente (sou engenheiro civil) que
contratou- me para fazer os projetos de sua casa. Após alguns dias em contanto
conversávamos sobre várias outras coisas que não os projetos. Nestas conversas
eu percebia a grande confusão de fé que havia naquela pessoa. Uma hora ela
dizia-se católica e falava de missas, novenas, da bíblia. Outra hora ela
dizia-se, também, espírita, frequentando inclusive os centros e sendo ativa nas
obras filantrópicas.
Em outro momento, em conversa breve com o
marido dela, sobre outros projetos, o mesmo perguntou-me se eu era espírita, ao
que respondi que não, pois sou católico. Ele também, confusamente como a
esposa, disse que não havia impedimento de confessar as duas fés, que na mente
dele são uma só: a cristã.
A confusão destas e de outras
pessoas que já encontrei nesta vida não é por eles serem espíritas ou por eles
serem católicos, mas na afirmação de serem “católicos e espíritas”. Isto é, por
lógica, impossível e tentarei mostrar a seguir os motivos dessa
impossibilidade.
O objetivo deste texto não é mostrar quem está certo, ou
se alguém está certo, mas mostrar que essas doutrinas são tão opostas que é ilógico acreditar-se em ambas.
Nas apresentações das duas doutrinas
serão utilizados o Catecismo da Igreja Católica (CIC) e transcrições do site da
Federação Espírita do Brasil (FEB), disponível em http://www.febnet.org.br e
do site www.forumespirita.net,
acessados em 12/10/2012, dentre outros que forem citados.
1 – Jesus
é Deus?
Para o catolicismo, Jesus é,
inquestionavelmente, Deus. Tal doutrina tornou-se Dogma após os concílios de
Nicéia (325 d.C.) e Constantinopla (381), quando foram debatidas as doutrinas
arianas sobre a divindade de Cristo. Ário (daí o nome arianismo) afirmava que
Deus criou a Cristo e, portanto, este não poderia ser Deus (COLLINS, M. e
PRICE M. A. História do Cristianismo – 2000 anos de fé. Edições Loyola. São
Paulo, 2000 - pg. 60).
Nos concílios mencionados, a Igreja
finalmente resolveu a questão sobre a divindade de Jesus e a tornou artigo de
fé católica, constando assim no credo niceno-constantinopolitano:
- Creio em um só Senhor,
Jesus Cristo... Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus
verdadeiro, gerado,
não criado,consubstancial
ao Pai. Por Ele
todas as coisas foram feitas. E
por nós, homens, e para nossa salvação, desceu dos céus (CIC, pg. 58).
Para o espiritismo, Jesus
não é Deus. Tal doutrina ensina que:
- Jesus é o guia e modelo para toda a
Humanidade. E a Doutrina que ensinou e exemplificou é a expressão mais pura da Lei de Deus. A moral do Cristo, contida no
Evangelho, é o roteiro para a evolução
segura de todos os homens, e a sua prática é a solução para todos os
problemas humanos e o objetivo a ser atingido pela Humanidade (FEB).
- O Espiritismo apenas admite o seu caráter humano, e isso em nada pode ser
tomado como absurdo. Rejeitando
o dogma da divindade de Jesus, o Espiritismo nega somente o que resultou
da elaboração de mentes
humanas (ratificada
apenas no Concílio de Nicéia, em 325 d.C.)
na composição de uma teologia que expressa, nesse particular como em
muitos outros, uma posição contrária ao pensamento do próprio Cristo,
uma vez que ele mesmo se coloca em posição de inferioridade em relação a
Deus, subordinado a Ele, e se declarando como Seu enviado (Forumespirita).
Vê-se, portanto, que o
que se crê no catolicismo é exatamente o oposto do que se crê no
espiritismo. Este diz daquele que sua doutrina a respeito da divindade de Jesus resultou da elaboração de mentes
humanas. E continuam os espíritas:
- Os conceitos de Deus e Jesus são no Espiritismo diferentes dos de outras doutrinas. Jesus é um dos filhos de Deus. Um entre os Cristos do Universo que cuidam dos
mundos. Não foi Deus que veio à Terra encarnado, mas Jesus, um dos seus mais competentes auxiliares. http://www.caminhosluz.com.br/detalhe.asp?txt=2963.
Como mostrado, o catolicismo ensina
exatamente o contrário: Jesus É
O DEUS ENCARNADO (descido dos
céus, como reza o Credo).
Quem está certo? Quem
está errado? Como dito, não é objetivo deste texto debater
isto, mas cumprindo seu objetivo, mostra-se aqui o primeiro paradoxo do
“católico-espírita”: Afinal, você crê que Jesus é Deus, como
ensina o catolicismo, ou crê que Jesus não é Deus, como ensina o
espiritismo?
É contra a razão crer-se em duas
afirmações contrárias. Portanto, é da mesma forma contra a razão dizer-se
católico-espírita.
2 – Deus
é trino?
O catolicismo ensina que Deus é um
só em três pessoas distintas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. É o
que os católicos chamam de Santíssima Trindade. Complementando o Credo exposto
na pergunta anterior, o catolicismo diz no mesmo Credo, a respeito da terceira
pessoa da Trindade:
- Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida e procede do Pai e do Filho; e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado. Ele
que falou pelos profetas (CIC,
pg. 59).
Afirma ainda o catolicismo sobre a
Trindade:
- A Trindade é Una. Não professamos três deuses, mas um só Deus em três pessoas: “a Trindade consubstancial”.
As pessoas divinas não dividem
entre si a única
divindade, mas cada uma
delas é Deus por inteiro: “O Pai é aquilo que é o Filho, o Filho é aquilo que é o Pai, o Espírito Santo é aquilo que são o Pai e o Filho,
isto é, um só Deus por natureza. Cada uma das três pessoas é esta realidade, isto é, a substância, a essência ou a
natureza divina. (CIC, 253).
Da pergunta anterior, já se conclui que
Deus não é trino para o espiritismo, uma vez que, para esta doutrina, Jesus não
é Deus. Ela diz ainda que:
- “O Espiritismo realiza o que Jesus disse do Consolador prometido:
conhecimento das coisas, fazendo que o homem saiba donde vem, para onde
vai e por que está na
Terra” (FEB).
- 312 – Como interpretar a afirmativa
de João: - “Três são os que fornecem testemunho no
céu: o Pai, o Verbo e o Espírito Santo?” João referia-se ao Criador, a
Jesus, que constituía para
a Terra a sua mais perfeita personificação, e à legião dos Espíritos redimidos e
santificados que
cooperam com o Divino Mestre, desde os primeiros dias da organização
terrestre, sob a misericórdia de Deus. http://www.institutoandreluiz.org/textos_espiritas.html
Portanto, para o espiritismo, com
doutrina oposta à católica, Deus não é trino. Afirma ainda que, o Espírito
Santo, que no catolicismo é uma das pessoas da Trindade, portanto Criador junto
com o Pai e o Filho, adorado da mesma forma que Eles, é, na verdade, a legião dos Espíritos redimidos e
santificados, fazendo o
espiritismo o que Cristo disse do Consolador, que para o catolicismo é a
Terceira Pessoa da Trindade.
Como crer que Deus é Trino e não é
Trino ao mesmo tempo? Como acreditar no catolicismo e no espiritismo ao mesmo
Tempo? Como dizer-se católico-espírita?
3 – A Queda
Para o catolicismo, Deus criou anjos
(seres espirituais) e homens (seres carnais e espirituais) sendo bons em sua
natureza, mas que se tornaram maus por sua própria iniciativa.
Sobre a queda dos anjos, diz o Catecismo:
- A Escritura fala de um pecado desses anjos. Esta queda, consiste na opção livre destes espíritos
criados que rejeitaram
radical e irrevogavelmente a Deus e seu Reino (CIC, 392).
- É o caráter irrevogável de sua opção, e não uma deficiência da misericórdia
divina, que faz com que o pecado dos anjos não possa ser perdoado. Não existe arrependimento para eles
depois da queda, como não existe
para os homens após a
morte (CIC, 393).
Sobre a queda do homem, diz o Catecismo:
- O homem, tentado pelo Diabo (um anjo decaído) deixou morrer em
seu coração a confiança em
seu Criador e, abusando
de sua liberdade, desobedeceu ao mandamento de Deus. Foi nisto que
consistiu o primeiro pecado do homem. Todo pecado daí em diante será uma desobediência a Deus e uma
falta de confiança em sua
bondade (CIC, 397).
- Constituído em um estado de santidade, o homem estava destinado a
ser plenamente divinizado por Deus na glória. Pela sedução do Diabo, quis
ser como Deus, mas sem Deus, e antepondo-se a Deus, e não segundo Deus. Adão e Eva perdem de imediato a
graça da santidade
original. A harmonia com a criação está rompida. Por causa do homem a
criação está submetida à servidão da corrupção. O homem voltará ao pó do qual é formado. A morte entra na
história da humanidade (CIC,
398, 399 e 400).
- Todos os homens estão implicados
no pecado de Adão. São Paulo
afirma: pela desobediência de um só homem
todos se tornaram pecadores. Como por meio de um só homem o pecado entrou no mundo
e, pelo pecado a morte, assim
a morte passou para todos os homens, porque todos pecaram (CIC, 402).
- O gênero humano inteiro é em Adão como um só corpo de um só homem. Em virtude desta unidade do
gênero humano, todos os homens estão implicados
no pecado de Adão, como todos estão implicados na justiça de Cristo... Adão havia recebido a santidade e a
justiça originais não exclusivamente para si, mas
para toda a natureza humana. Ao ceder ao Tentador, Adão e Eva cometem um pecado
pessoal, mas este pecado afeta a natureza humana que vão transmitir em um estado
decaído. É um pecado
que será transmitido por
propagação à humanidade
inteira, isto é, pela
transmissão de uma natureza humana privada da santidade e da justiça
originais. E é por isso que o pecado original é denominado pecado de maneira
analógica: é um pecado contraído e não cometido, um estado e não um ato (CIC, 404).
Diferentemente do catolicismo, o
espiritismo ensina que:
- Os Espíritos são criados simples e ignorantes.
Evoluem, intelectual e moralmente, passando de uma ordem inferior
para outra mais elevada, até a perfeição, onde gozam de inalterável felicidade (FEB).
Assim, não houve a Queda da humanidade,
e, portanto, na contramão do que ensina o catolicismo, não houve o Pecado
Original que é transmitido a todo o gênero humano.
Os dons preternaturais que a humanidade
perdeu com a Queda, na doutrina católica, nunca existiram para a doutrina
espírita. Para estes, os
Espíritos são criados simples e ignorantes.
A Queda é uma das doutrinas centrais do
catolicismo, o que explica, inclusive, a encarnação do Cristo. Oras, se não se
acredita na Queda, não pode dizer-se católico. Quem assim o faz, certamente o
faz por ignorância, por não saber o que se ensina numa doutrina e noutra.
É a Queda que explica o mal no mundo para
o catolicismo. Para o espiritismo, é o carma que os espíritos ignorantes trazem
de vidas passadas.
Se houve a Queda ou se os espíritos são
criados simples e ignorantes, não é este texto quem responderá. Mas é
impossível afirmar que houve E que não houve a Queda.
Impossível mesmo é ser
católico-espírita.
4 – Para que serviu o
sacrifício de Cristo?
Para o catolicismo, Cristo veio trazer a
verdadeira religião, ou seja, e verdadeira via de ligação do homem decaído a
Deus. Por isto, a Igreja afirma que:
- Retomando a expressão de
São João (O Verbo se fez carne), a
Igreja denomina “Encarnação”
o fato de o Filho de Deus ter assumido uma natureza humana para realizar nela a nossa
salvação (CIC, 461).
- Este projeto divino de salvação mediante a morte do Servo, o
Justo, havia sido anunciado antecipadamente na Escritura como um
mistério de redenção universal, isto é, de resgate que liberta os
homens da escravidão do
pecado. Cristo
morreu por nossos pecados segundo as Escrituras (CIC, 601).
- Os pecados dos homens, depois do pecado original, são sancionados pela morte. Ao
enviar seu próprio Filho na condição de escravo, condição de uma
humanidade decaída e fadada à morte por causa do pecado, Aquele que não conhecera o pecado, Deus o fez
pecado por causa de nós, a fim de que, por ele, nos tornemos justiça de Deus (CIC, 602).
- A morte de Cristo é ao
mesmo tempo o sacrifício pascal, que realiza a redenção definitiva dos
homens, pelo cordeiro que tira o pecado do mundo, e o sacrifício da
Nova Aliança, que
reconduz o homem à comunhão com Deus, reconciliando-o
com ele pelo sangue
derramado por muitos para a remissão dos
pecados (CIC, 613).
É, portanto, para o catolicismo, a morte
de Cristo, verdadeira religião e única forma de ligação do homem decaído pelo
pecado a Deus.
O espiritismo sequer se considera
religião, embora o seja, pois religião (do latim religare) é um conjunto de
doutrinas e/ou ritos sob os quais o crente está submetido a fim de agradar a
Deus (é o que se pretende no espiritismo quando este ensina doutrinas para que
o homem de espírito simples e ignorante evolua até ser puro espírito cumprindo
assim a vontade de Deus). O espiritismo diz dele mesmo que:
- “O Espiritismo é uma ciência que trata da
natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com
o mundo corporal.” Pode e
deve ser estudado,
analisado e praticado em
todos os aspectos fundamentais da vida, tais como: científico,
filosófico, religioso, ético,
moral, educacional, social (FEB).
Talvez daí, achem alguns que podem ser
católicos e espíritas, pois o espiritismo pode ser estudado, analisado e
praticado dentro da religião, inclusive, o catolicismo, uma vez que ele se
define como uma ciência. Difícil mesmo, como mostrado até aqui e como o será
mais adiante, é conviver racionalmente com tantas contradições destas duas
opostas doutrinas.
Já que o espiritismo não se diz
religião, apesar de sê-lo, voltemos à pergunta “para que serviu o sacrifício de
Cristo?”. No catolicismo, viu-se que este serviu para remir a humanidade que
foi desligada de Deus pela Queda original. Esta religação (religião) foi feita
pelo Cristo, por meio de seu puro sangue “derramado em favor de muitos para
a remissão dos pecados”. Esta doutrina é tão fundamental ao católico que, o
centro da vida litúrgica católica é a Santa Missa, ou seja, a renovação do
Sacrifício de Cristo. É o que os católicos celebram, ao menos, todos os
domingos.
Opostamente ao que diz o catolicismo, o
espiritismo ensina que:
- Os judeus acreditavam em sacrifícios de animais para a expiação
de pecados (ler o Levítico). Esses holocaustos visavam o resgate de
pecados pessoais e também de pecados coletivos. Mas não eram somente os
judeus, praticamente todos os povos antigos praticavam sacrifícios. É imbuído desse pensamento que
o profeta Isaías, ao receber do plano espiritual superior a visão
profética, compreende o sacrifício futuro do Messias: como um cordeiro
que será sacrificado em
resgate coletivo. E essa
mesma ideia será retomada
pelos apóstolos principalmente Paulo, o que é bastante compreensível visto
que no seu tempo ainda se realizavam sacrifícios no templo de
Jerusalém.
- Assim sendo, o
sacrifício de Jesus foi necessário apenas como um meio de chegar ao
coração de pessoas ainda
nos estágios da barbárie e da violência e que ainda não compreenderiam uma salvação sem
um holocausto, apesar dos vários esclarecimentos da espiritualidade
superior nas mesmas páginas do Antigo Testamento, exortando a
substituírem-se os holocaustos pela prática do amor ao próximo,
ensinamento que logicamente não foi
compreendido. http://jeflemos.wordpress.com. O Sacrifício de Jesus e a Reencarnação.
Ou seja, como o homem não conseguiria,
pelo estado evolutivo em que se encontrava, compreender uma salvação sem
sacrifício, foi necessário que o Cristo morresse. Apenas isto.
É o que consta também em http://www.ceismael.com.br/artigo/sacrificio-e-espiritismo.htm:
- De acordo com os cânones religiosos, Jesus é o Espírito mais elevado que já reencarnou neste Planeta de
provas e expiações. Pode-se dizer que era médium de Deus. Tinha a missão de dirigir os destinos da
Terra. Para isso, era
preciso mudar o nível mental dos seus habitantes. Por isso, não perdeu nenhuma oportunidade de
nos passar um ensinamento, para que pudéssemos adentrar em uma nova
forma de vida, a verdadeira vida, ou seja, a vida espiritual. A Sua morte na Cruz
representa o móvel da redenção da Humanidade. Por isso, dizemos que Ele é o "Mestre por excelência: ofereceu-se-nos por amor, ensinou até o último instante de sua vida,
fez-se o exemplo permanente em nossos corações e nos paroxismos da dor,
pregado no madeiro ignominioso, perdoou-nos as defecções de maus
aprendizes".
De forma mais contraditória ao
catolicismo:
- Uns querem dizer que o Espiritismo e a reencarnação anulam todo o sacrifício de Jesus. Na verdade, o Espiritismo não aceita o sangue de Jesus como sendo resgate de nossos pecados, mas valoriza, sim, o sacrifício de sua vinda ao nosso mundo e de sua morte, tudo para trazer para nós a mensagem do Pai. (http://www.espirito.org.br/portal/artigos/jose-chaves/o-espiritismo-a-reencarnacao.html)
Creia você no que quiser. Mas crer que o
sangue de Jesus remiu os pecados do mundo e ao mesmo tempo crer que ele não
remiu passa a ser, após esta leitura, desonestidade intelectual. Não acreditar
no sacrifício redentor de Cristo e ir à Missa é tão surreal
quanto um militante comunista ir lanchar no Mc Donalds. Não consigo crer que
quem assim age saiba de verdade o que está fazendo, ou do que está
participando.
5 – Ressurreição ou
reencarnação?
Assim diz o Credo católico: “Creio na ressurreição da carne” ou “Espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há de vir”.
Com este artigo de fé, o catolicismo
ensina que o homem, tendo sido separado espiritualmente de sua carne por
ocasião da morte, haverá de unir-se a ela por ocasião da segunda vinda de
Cristo.
A fé católica na ressurreição dos
mortos está embasada primeiramente na fé que eles têm a respeito da
ressurreição de Jesus que ressurgiu dos mortos ao terceiro dia de sua morte na
cruz. Para eles, Cristo ressuscitou na carne, num corpo glorioso, não mais
sujeito às leis naturais. Crêem os católicos que terão seus corpos também
transformados, como o Cristo, quando da ressurreição dos mortos Naquele dia.
O Catecismo diz o seguinte a respeito da
ressurreição de Cristo:
- A Ressurreição de Jesus é a verdade culminante de nossa
fé em Cristo, crida e vivida como verdade
central pela primeira comunidade cristã, transmitida como fundamental
pela Tradição, estabelecida pelos documentos do Novo Testamento,
pregada, juntamente com a cruz, como parte essencial do Mistério Pascal. “Cristo ressuscitou dos
mortos; por sua morte venceu a morte; aos mortos deu a vida” (CIC,
638).
- Jesus ressuscitado estabelece com seus discípulos relações diretas em que estes o apalpam e com Ele
comem. Convida-os com isto a reconhecer que Ele não é um espírito, mas sobretudo a constatar que o corpo ressuscitado com o qual Ele se apresenta a eles é o mesmo que foi martirizado
e crucificado, pois ainda traz marcas de sua paixão. Contudo, este
corpo autêntico e real possui, ao mesmo tempo, as propriedades novas de
um corpo glorioso:
não está mais situado no espaço e no tempo, mas pode tornar-se
presente a seu modo, onde e quando quiser, pois sua humanidade não pode mais ficar presa à terra, mas já pertence exclusivamente ao
domínio divino do pai (CIC, 645).
- Cristo, primogênito dentre os mortos, é o princípio de nossa própria
ressurreição, desde já pela
justificação de nossa alma, mais tarde pela vivificação de nosso
corpo (CIC 651 e 658).
E sobre a ressurreição dos homens, diz:
- Cremos firmemente – e assim esperamos – que, da mesma forma que Cristo
ressuscitou verdadeiramente dos mortos, e vive para sempre, assim
também, depois da morte, os justos viverão para sempre com Cristo
ressuscitado e que Ele
os ressuscitará no último dia. Como a ressurreição de Cristo,
também a nossa será obra da Santíssima Trindade: Se o espírito daquele que
ressuscitou Jesus dentre os mortos habita em vós, aquele que ressuscitou
Cristo Jesus dentre os mortos dará vida também aos vossos corpos mortais,
mediante o seu Espírito que habita em vós (CIC, 989).
- Como podem alguns dentre vós dizer que não há ressurreição dos mortos? Se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou, e, se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa pregação, vazia também a vossa fé. Mas não! Cristo ressuscitou dos
mortos, primícias dos que adormeceram (1 Cor 15,12-14.20).
- Pela morte, a alma é separada do corpo, mas na ressurreição Deus
restituirá a vida
incorruptível ao nosso corpo transformado, unindo-o novamente à nossa alma. Assim como Cristo ressuscitou e
vive para sempre, todos nós ressuscitaremos
no último dia (CIC, 1016).
O espiritismo não crê na
ressurreição da carne, como o crê o catolicismo. Aquele ensina que:
- Os Espíritos
reencarnam tantas vezes quantas forem necessárias ao seu próprio aprimoramento. Os Espíritos evoluem sempre. Em
suas múltiplas existências corpóreas podem estacionar, mas nunca
regridem. A rapidez do seu
progresso intelectual e moral depende dos
esforços que façam para chegar à perfeição (FEB).
- Chega enfim um dia em que o espírito, após haver percorrido o ciclo de
suas existências planetárias e ser purificado por seus renascimentos e
suas migrações através os
mundos, vê cerrar a série de suas
encarnações e se abrir a vida espiritual definitiva, a verdadeira
vida da alma, onde o mal, a sombra e o erro estão banidos. Então, as últimas influências materiais
se esvaneceram. A calma, a serenidade e a segurança profunda substituíram as
aflições e as inquietudes de outrora. A alma atingiu o termo de suas
provas; está assegurada de
não mais sofrer
(forumespirita).
Em complemento à questão 4, a
Santa Missa é o Memorial da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Oras, crê-se no catolicismo
que Cristo ressuscitou na carne e que, também na carne, ressuscitará os membros
da Igreja que alcançarem a salvação. Como conformar esta doutrina católica à
doutrina da reencarnação?
Você, “católico-espírita”, pode explicar
a si mesmo como uma pessoa pode vir a ressuscitar na carne e tornar-se espírito
puro?
Pode explicar a si mesmo como
é possível ressuscitar de uma vez por todas e reencarnar tantas vezes?
Pode dizer como é possível crer que
o homem vive uma vez só, sendo julgado quando morre e ao mesmo tempo crer que
não há julgamento definitivo, pois o homem reencarna tantas vezes até
atingir a perfeição espiritual?
Consegue agora concluir que não
há possibilidade lógica de crer no catolicismo e no espiritismo ao mesmo
tempo? E que, portanto, não é possível ser católico e espírita?
Ou ressuscitaremos na carne ou
reencarnaremos até tornamo-nos puros espíritos, libertando-nos da carne.
Que as duas coisas ocorram é contra a razão.
6 – O mundo espiritual
Para o catolicismo, ao morrer o homem
entra em juízo particular diante de Deus, quando é julgado merecedor da
felicidade eterna, que é a visão beatífica de Deus, ou da condenação eterna,
longe da fonte da felicidade, pelas escolhas livres que fez em vida.
O catolicismo ainda ensina que as almas
dos salvos que morreram em pecados veniais, portanto, que não receberam o
sacramento da reconciliação e nem fizeram perfeita contrição antes da morte,
passam por um estado de purificação antes de entrarem no céu.
Há, portanto, para o catolicismo, três
estados em que a alma humana se encontra após a morte: céu, inferno e,
temporariamente, o purgatório.
Também ensina esta religião que a Igreja,
que é o corpo de Cristo, existe em três realidades distintas: a Igreja
militante, formada pelos batizados que ainda vivem na terra; a Igreja
padecente, formada pelos salvos que ainda se encontram no purgatório, e pela
Igreja triunfante, formada pelos que já gozam da glória eterna e têm a
visão beatífica de Deus.
Assim diz o catecismo sobre o céu, o
purgatório e o inferno:
- A morte põe fim à vida do homem como tempo aberto
ao acolhimento ou à recusa da graça divina manifestada em Cristo (CIC,
1021).
- Cada homem recebe em sua alma imortal a retribuição eterna a
partir do momento da morte, num juízo particular que coloca sua vida em relação à vida de Cristo, seja por meio
de uma purificação,
seja para entrar de imediato na felicidade
do céu, seja para condenar-sede
imediato para sempre (CIC,
1022).
- Os que morrem na
graça e na amizade de Deus,
e que estão totalmente
purificados, vivem
para sempre com Cristo. São para
sempre semelhantes a Deus, porque o vêem tal como Ele É, face a face (CIC, 1023).
- Essa vida perfeita com a Santíssima Trindade, essa comunhão de vida e de amor com Ela, com a Virgem Maria, os
anjos e todos os bem-aventurados, é denominada “o Céu”. O céu é o fim último e a realização das
aspirações mais profundas do homem, o estado de felicidade suprema
e definitiva (CIC,
1024).
- Os que morrem na
graça e na amizade de Deus,
mas não estão completamente purificados,
embora tenham garantida
sua salvação eterna, passam após sua
morte, por uma purificação,
a fim de obter a
santidade necessária para
entrar na alegria do céu. A Igreja denomina Purgatório a esta purificação final dos
eleitos, que é completamente distinta do
castigo dos condenados (CIC,
1030 e 1031).
- Não podemos estar
unidos a Deus se não fizermos livremente a opção de amá-lo.
Mas não podemos amar a
Deus se pecamos
gravemente contra Ele, contra
nosso próximo ou contra nós mesmos... Morrer em pecado mortal,
sem ter-se arrependido dele e sem acolher o amor misericordioso de Deus significa ficar separado do Todo-Poderoso para sempre,
por nossa própria opção livre. E é deste estado de auto-exclusão definitiva da comunhão com Deus e com os
bem-aventurados que se designa com a palavra “inferno”(CIC, 1033).
- O ensinamento da Igreja
afirma a existência e a realidade do inferno. As almas dos que
morrem em estado de pecado mortal descem imediatamente após a morte aos infernos, onde sofrem as penas do
inferno, o fogo eterno. A pena
principal do inferno
consiste na separação eterna de Deus, o único em quem o homem pode ter
a vida e a felicidade
para as quais foi criado e às quais aspira. Deus não predestina ninguém ao inferno, para isso é preciso uma aversão voluntária a Deus (um pecado mortal) e persistir nela até o fim(CIC, 1035 e 1037).
Sobre a Igreja e a comunhão dos santos, o
Catecismo diz:
- Até que o Senhor
venha em sua majestade... alguns dentre os seus discípulos peregrina na terra;
outros, terminada esta vida, são
purificados; enquanto outros são glorificados,
vendo claramente o próprio Deus trino e uno, assim como É (CIC, 954).
- A união dos que estão na terra com os irmãos que descansam na paz de Cristo de maneira alguma se irrompe;
pelo contrário, segundo a fé perene
da Igreja, vê-se
fortalecida pela comunicação dos bens espirituais (CIC, 955).
- Cremos na comunhão de todos os fiéis de Cristo,
dos que são peregrinos
na terra, dos defuntos
que estão terminando a sua
purificação, dos bem-aventurados
do céu, formando, todos juntos, uma
só Igreja, e cremos
que nesta comunhão o amor
misericordioso de Deus e de seus santos está sempre à escuta de nossas orações (CIC, 962).
Para o espiritismo, não existe a Igreja
triunfante, padecente e militante, como o crê o catolicismo. Os espíritas
crêem que:
- Além do mundo
corporal, habitação dos Espíritos encarnados, que são os homens, existe o mundo espiritual, habitação
dos Espíritos desencarnados. Eles estudam,
trabalham e
desenvolvem diversas atividades
no mundo espiritual (FEB).
- Os Espíritos são as
almas dos homens que já perderam
o corpo físico. A exemplo do que observamos na Humanidade
encarnada, o
conhecimento que eles têm é correspondente ao seu grau de
adiantamento moral e intelectual. A morte é uma passagem para a vida
espiritual e não dá valores morais ou de
inteligência a quem não os
tem (FEB).
- Os Espíritos pertencem a diferentes
ordens, conforme o grau de perfeição que tenham alcançado: Espíritos Puros, que
atingiram a perfeição
máxima; Bons Espíritos,
nos quais o desejo do bem é o que predomina; Espíritos Imperfeitos,
caracterizados pela ignorância, pelo desejo do mal e pelas paixões
inferiores (FEB).
- O espírito
adiantado está liberto de todas as necessidades
corporais. A alimentação e o sono não têm para ele nenhuma razão de ser. Ele deixa para sempre,
ao sair da Terra, as vãs inquietações,
os sobressaltos e todas as quimeras que envenenam a existência aqui em
baixo. Os espíritos inferiores levam com eles, para o lado de lá do túmulo, seus hábitos, suas
necessidades e suas preocupações materiais. Não podendo se elevar acima
da atmosfera terrestre, eles
voltam para
compartilhar da vida dos humanos, misturar-se em suas lutas, em seus
trabalhos e em seus prazeres. Suas paixões e seus apetites, sempre
despertos, super excitados pelo contínuo contacto da humanidade, os
sobrecarregam, e a impossibilidade de os
satisfazer torna-se para
eles uma causa de torturas (fórumespirita).
Oras, se não há a Igreja nos três
estados, como crê o catolicismo, também não há a comunhão dos santos e nem a
intercessão entre eles. E se não se crê nestas coisas, certamente não se é
católico, pois são artigos de fé do Credo católico.
E se, no catolicismo crê-se no inferno
como condenação eterna, no espiritismo crê-se exatamente o oposto:
- Interroguem seu bom senso, sua razão, e perguntem se uma condenação perpétua por
alguns momentos de erro não seria
a negação da bondade de Deus? Que é, com efeito, a duração da vida,
fosse ela de cem anos, com relação à eternidade? Eternidade!
Compreendem bem essa palavra? Sofrimentos, torturas sem fim, sem
esperança, por algumas faltas! Seu julgamento não recusa um tal pensamento? Que os antigos
tivessem visto no mestre do universo um Deus terrível, ciumento e
vingativo, se concebe; na sua ignorância, emprestaram à divindade as paixões dos
homens; mas esse não é o Deus dos cristãos, que coloca
o amor, a caridade, a misericórdia, o esquecimento das ofensas na
categoria das primeiras virtudes: poderia Ele mesmo falhar nas
qualidades das quais fez um dever? Não há contradição em lhe atribuir a bondade infinita e a vingança infinita? Vocês dizem que antes de tudo Ele é justo, e que o homem não compreende sua justiça; mas a
justiça não exclui a bondade, e Ele não seria bom se consagrasse a
penas horríveis e perpétuas, a maior parte de suas criaturas. Poderia
Ele impor aos seus filhos a justiça como
uma obrigação, se não lhes
tivesse dado os meios de a
compreender? Além disso,
não é uma sublime justiça, unida à bondade, fazer depender dos
esforços do culpado para se melhorar a duração das penas? Aí está a verdade destas palavras: «A cada um segundo as suas obras».
- O paraíso e o inferno não existem
em lugares circunscritos: eles representam o estado de consciência do
Espírito segundo o bem ou o mal que realizou.
- Nenhuma pena é eterna. Não depende senão da vontade do Espírito melhorar
sua condição ( O
Evangelho Segundo o Espiritismo).
Diz-se então no espiritismo que não pode
haver condenação eterna por ser esta uma negação da bondade de Deus, o qual não
poderia, por tornar-se terrível, ciumento e vingativo, conceber uma condenação perpétua por alguns momentos de erro, por algumas faltas. Para o catolicismo, a
condenação eterna não é dada por Deus, mas conquistada pelo próprio homem que,
com sua liberdade de escolha (livre arbítrio), resolve dizer não ao amor de
Deus e, portanto, acabando por dizer não à felicidade eterna e ao fim para o
qual sua alma foi criada, estando sua alma eternamente condenada ao que o
catolicismo chama de inferno, ausência total de Deus. Não é por erros ou por
faltas, mas pela resposta que se deu livremente ao chamado de Deus.
As duas religiões têm doutrinas bem
diferentes, hein? E mais uma vez, repetindo que não é objetivo deste texto
dizer qual das duas está correta, ou se há uma correta, pergunto: Como duas
doutrinas tão opostas podem ser comportadas dentro de um mesmo cérebro?
Como crer-se racionalmente no catolicismo
e no espiritismo ao mesmo tempo?
Como dizer-se católico e espírita?
7 – A fé e as obras.
No catolicismo crê-se que a salvação se
conquista pela fé em Cristo e no que ensina Sua Igreja, No entanto,
está fé é complementada pelas obras, afim de que não seja uma
fé morta. Segundo São Tiago, somos justificados pelas obras e não somente pela fé,
complementando o que diz São Paulo que somos salvos pela graça mediante a fé, e
isto não vem de nós, é dom de Deus.
O católico crê ainda que os méritos
que ele possa conquistar estão submetidos aos méritos de Cristo, o qual
é responsável, através da graça, pela oportunidade do fiel exercer a
Caridade.
Segundo o Catecismo:
- O mérito do homem diante de Deus, na vida cristã, provém do fato de que Deus livremente determinou
associar o homem à obra de sua graça. A ação paternal de Deus vem
em primeiro lugar por
seu impulso, e o livre
agir do homem, em segundo lugar, colaborando com Ele, de sorte que os méritos das boas obras
devem ser atribuídos à graça de Deus, primeiramente, e só em segundo lugar ao fiel. O
próprio mérito do homem cabe, aliás, a Deus, pois suas boas ações procedem, em
Cristo, das inspirações e do auxílio do Espírito Santo (CIC, 2008).
- Os méritos de nossas obras são dons
da bondade divina. A graça veio primeiro; agora se entrega
aquilo que é devido... Os méritos são dons de Deus (CIC, 2009).
Sobre as virtudes teologais:
- A fé é a virtude teologal pela qual cremos em Deus e em tudo o que nos disse e
revelou, e que a Santa
Igreja nos propõe para
crer, porque Ele é a própria verdade. Pela fé, o homem livremente se entrega todo a Deus. O justo viverá pela fé. A fé viva age pela caridade. (CIC, 1814).
- Mas é morta a fé sem obras. Privada da esperança e do amor (caridade), a fé não une plenamente o fiel a Cristo e não faz dele um membro vivo de seu
corpo (CIC, 1815).
- A caridade (diferente da filantropia) é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as
coisas, por si mesmo, e a nosso próximo como a nós mesmos, por amor de Deus (CIC, 1822).
- “Se não tivesse a
caridade, isso nada me adiantaria”. A
caridade é superior a todas as virtudes. É a primeira das virtudes
teologais:“Permanecem a fé, a esperança e a caridade. A maior delas, porém, é a caridade (CIC, 1826).
Que não se confunda, pois, superioridade
com suficiência. Assim como a fé, sem obras é morta e “não une plenamente
o fiel a Cristo”, a Caridade, sem a fé e a esperança, é mera
filantropia e da mesma forma não os une. Por isto ensina o Concílio de Trento
(1543-1563):
- 795. Embora tenha ele morrido por
todos (2 Cor 5, 15), não obstante nem todos recebem o benefício de sua
morte, mas somente
aqueles aos quais é comunicado o merecimento de sua
Paixão. Porque assim como os homens de fato não haveriam de nascer na injustiça, se
não tivessem tido origem em Adão – pois, por meio dele e em conseqüência desta origem contraem na
conceição a injustiça que
lhes é própria– assim também jamais seriam justificados,
se não renascessem em
Cristo [cân. 2 e 10]. Pois é por este renascimento, em virtude do mérito da Paixão,
que a graça, por meio da qual são justificados,
lhes é concedida. Por este benefício o
Apóstolo exorta a rendermos sempre graças ao Pai, que nos fez dignos de
participar da sorte dos santos na luz (Col 1, 12) e nos tirou do poder das
trevas e nos transferiu ao reino de seu amado Filho, no qual temos
redenção e remissão dos
pecados (Col 1, 13 s).
- 796. Nestas palavras se descreve a justificação do pecador, como
sendo uma passagem daquele estado
em que o homem, nascido filho do primeiro Adão, [passa] para o estado de
graça e de adoção de
filhos (Rom 8, 15) de Deus
por meio do segundo Adão, Jesus Cristo, Senhor Nosso. – Esta transladação, depois da
promulgação do Evangelho, não é possível sem o lavacro da regeneração [cân. 5 sobre o Batismo] ou sem o
desejo do mesmo, segundo a palavra da Escritura: se alguém não tiver renascido da água e do Espírito Santo, não poderá entrar no reino de Deus (Jo 3, 5).
- 800. Assim, ninguém pode ser justo, senão aquele a quem se comunicam os
merecimentos da Paixão de
nosso Senhor Jesus Cristo. Mas
isto assim sucede nesta justificação do pecador, precisamente pelo fato
de o amor de Deus se difundir pelo Espírito Santo, por forçados merecimentos
desta sagrada Paixão, nos corações (Rom 5, 5) dos que são justificados, aderindo-lhes
intimamente [cân. 11]. Por isso, na justificação é infundido no homem por Jesus
Cristo, a quem está unido,
ao mesmo tempo, tudo isto: fé, esperança e caridade. Porque a fé nem une perfeitamente com
Cristo, nem faz membro vivo de seu corpo, se não se lhe ajuntarem a esperança e a caridade. Daí a razão de se dizer com toda a verdade:
a fé, sem obras, é morta (Tgo 2, 17 ss) e ociosa [cân. 19];
- 810. Não se deve,
todavia, omitir o seguinte: Embora
na Sagrada Escritura se atribua tão grande
valor às boas obras, que Cristo
prometeu: Quem oferecer um copo de água
fresca a um destes pequeninos, em verdade não ficará sem a sua recompensa (Mt 10, 14); e o Apóstolo
testifique: O que presentemente é para nós uma tribulação momentânea e
ligeira, produz em nós um
peso de glória (2 Cor 4, 17);contudo, longe esteja o cristão de confiar ou se gloriar em si
mesmo e não no Senhor (l Cor l, 31; 2 Cor 10, 17),
cuja bondade é tanta para com todos os homens,
que ele quer que estes
seus próprios dons se tornem merecimentos deles [cân. 32].
Portanto, para o católico, a salvação e
os meios para adquiri-la são exclusivamente fruto da graça divina, seja a fé,
seja a esperança, seja a caridade, unidos à livre escolha do homem em
acolhê-los.
No espiritismo, não são necessárias
fé e obras como meios de salvação, como ensina o catolicismo.
No livro “O Evangelho Segundo o
Espiritismo”, no capitulo XV, Allan Kardeck (pai do espiritismo) ensina que a
salvação depende exclusivamente da caridade:
- “Meus filhos, na máxima: Fora
da caridade não há salvação, estão encerrados os destinos dos
homens, na Terra e no céu; na Terra, porque à sombra desse estandarte eles
viverão em paz; no céu,
porque os que a houverem praticado acharão graças diante do Senhor (pg.
251).
Negando inclusive o dogma católico de que
“Fora da Igreja não há salvação” Allan Kardeck ensina que só as obras podem
elevar o espírito a um nível superior, independente da fé do mesmo.
O Concílio de Trento ainda elaborou
alguns cânones sobre o que se crê hoje no espiritismo, mesmo tendo tal
concílio, ocorrido séculos antes desta nova “religião:
- 811. Cân. 1. Se
alguém disser que o homem pode ser justificado
perante Deus pelas suas obras, feitas ou segundo as forças da natureza,
ou segundo a doutrina da Lei, sem
a graça divina [merecida] por Jesus Cristo — seja excomungado. [cfr. n° 793 s].
- 820. Cân. 10. Se
alguém disser que os homens são justificados sem a justiça de Cristo, pela qual ele
mereceu por nós; ou que é por ela mesma que eles são formalmente justos — seja excomungado [cfr. n° 795, 799].
A Igreja, ainda ensina que os sacramentos, para os
cristãos, são NECESSÁRIOS à salvação (CIC,
1129). Como acreditar nisto e, ao mesmo tempo, crer que a salvação é alcançada
somente pelas obras, por mérito próprio?
Como ser salvo? Só pela fé, como ensinam
os protestantes? Só pelas obras, como ensinam os espíritas? Por ambas, como
ensinam os católicos?
Este texto não tem razão de ser senão
para responder a outra pergunta: Como crer, ao mesmo tempo, que a salvação
é exclusivamente pelas obras e que também é necessária a
fé em complemento às obras?
Você percebe que não há como,
racionalmente, crer nas duas doutrinas?
Acreditas que fora da Igreja não
há salvação ou que fora da caridade não há salvação?
A resposta que dás te diz em que crês. E
no que crês, deves concordar que não é num catolicismo-espírita.
8 - Os Espíritas e a
Igreja
Em 1953 a Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil reafirmou o que afirmara em 1915 e em 1948:
"Os espíritas devem ser tratados, tanto no foro
interno como no foro externo, como verdadeiros
hereges e fautores de
heresias, e não podem ser
admitidos à recepção dos sacramentos, sem que antes reparem os escândalos dados, abjurem o espiritismo e façam a profissão de fé."
Segundo a Lei da Igreja, "chama-se
heresia a negação pertinaz, após a recepção do batismo, de qualquer verdade que
se deve crer com fé divina e católica, ou a dúvida pertinaz a respeito
dela" (CDC cân . 751).
Ora, "o herege incorre automaticamente
em excomunhão" (CDC cân . 1364 §1), ou seja, deve ser excluído da recepção
dos sacramentos (cân . 1331 §1), não pode ser padrinho de batismo (cân . 874),
nem de crisma (cân . 892) e não pode casar na Igreja sem licença especial do bispo
(cân . 1071) nem ser membro de associação ou irmandade católica (cân . 316).
Oras, se por excomunhão, não se é mais
católico, uma vez que o membro é desligado do corpo de Cristo, como pode
afirmar-se católico-espírita. Este termo é tão pejorativo quanto “católicas
pelo direito de decidir”.
Para a Igreja não
há católico-espírita. Espero que após a leitura destas doutrinas tão
opostas, tenhas chegado à mesma conclusão.
Conclusões
Nota-se, pelo exposto (e são só algumas
contradições doutrinárias, muitas outras foram identificadas durante minhas
leituras de escritos espíritas e católicos) que o espiritismo e o catolicismo
não têm muito (para não dizer “nada”) em comum. Pelo contrário, estas religiões
caminham na contramão uma da outra, e o que segue na contramão, ou seja, na
direção oposta, não leva ao mesmo lugar, mas a um lugar totalmente oposto e
distante um do outro.
Portanto não dá para ser católico e
espírita. Essa dicotomia é tão ilógica quanto acreditar que existe um gay
que é heterossexual. O heterossexual é o animal que tem atração por
animais da mesma espécie e de sexo EXCLUSIVAMENTE oposto ao seu. O homossexual,
do contrário, tem atração pelos do mesmo sexo. Há ainda os bissexuais,
que não se importam com o sexo do parceiro, mas estes, certamente, não são
heterossexuais. Ora, declarar-se gay e heterossexual é uma afirmação absurda e
ilógica, que revela a confusão do afirmador sobre si mesmo. Da mesma forma,
declarar-se espírita e católico é ilógico e confuso justamente por serem
doutrinas muito diferentes, opostas umas às outras, como apresentado.
Aos espíritas, que sejam espíritas e
declarem-se espíritas sem vergonha de sê-lo. Aos católicos, que sejam católicos
e declarem-se católicos sem vergonha de sê-lo. No nosso país ainda são
permitidas as expressões de fé. Mas declarar-se as duas coisas, tão opostas uma
da outra, não é permitido pela própria lógica. Isso fere a razão, inclusive a
coletiva. Quando se faz isto, ou se faz por ignorância ou por desonestidade
intelectual. O primeiro caso é fácil de resolver, o segundo é impossível.
Como disse Chesterton: “O que conclui,
cala”. Concluo aqui.