terça-feira, 10 de abril de 2012

Uma Mentira para Fernão de Magalhães



Por Fernando Nascimento

Na internet circula uma célebre lorota, que dá conta que o grande navegador Fernão de Magalhães (1480-1521) teria dito:

"A Igreja diz que a Terra é plana, mas sei que ela é redonda, porque vi a sombra dela na Lua, e acredito mais numa sombra do que na igreja."

Isso não passa de mais uma daquelas potocas inventadas para fazer parecer que a Igreja é ignorante. Tal frase nunca foi proferida por Fernão de Magalhães, por isso sempre é exposta sem qualquer fonte.

A Verdade:

Ao contrário do que pensam os caluniadores, a esfericidade da terra é conhecida desde os tempos antes de Cristo. Crates de Malus (145 A.C.) foi o primeiro a construir um globo para representar a Terra. (Enciclopédia Espasa Calpe, Barcelona, verbete Mapa, vol. XXXII, pág.1132).

A Igreja nunca disse que a Terra era plana, santo Agostinho (354-430), doutor da Igreja, no seu livro "A Cidade de Deus" (De Civitate Dei), mais de 1.000 anos antes de Fernão de Magalhães nascer, escreveu:

"Apesar de estar supostamente ou cientificamente provado que a Terra tem a forma esférica, disto não decorre que o outro lado do mundo seja desprovido de mares, nem decorre imediatamente que, sendo desprovido de mares, seja habitado."

Também muito antes de Fernão de Magalhães nascer, Santo Alberto Magno, que viveu entre 1193 e 1280, e que foi mestre de São Tomás de Aquino, defendeu a esfericidade da Terra. São Tomás de Aquino - o maior gênio medieval - tratou da questão em pauta na Suma Teológica (I., q.1, a.1, ad2). A imagem de Nossa Senhora de Montserrat, padroeira da Catalunha, é do século XI, tanto ela como o menino Jesus, têm nas mãos o globo terrestre, da qual a Virgem Maria é Rainha e da qual Cristo é Criador e Senhor. Se a Igreja representava a Terra por um globo séculos antes de Fernão de Magalhães nascer, é porque sabia que ela é redonda, não fazendo qualquer sentido a frase fantasiosa que inventaram para Fernão.

Só isso põe fim a lorota.

Os navegadores portugueses e espanhóis eram fundamentalmente católicos, altamente devotos e desde a Escola de Sagres estudavam os conceitos de navegação considerando a redondeza do planeta. Além disso, Magalhães era católico fervoroso, teve problemas em manter a fidelidade religiosa de seus comandados, empreendeu conversões e não se concebe que se reportasse de forma irônica a uma “interpretação” da Igreja. Sua armada era composta de cinco navios, que tinham inclusive nomes de santos católicos e da Trindade: Trinidad, San Antônio, Concepcion, Victoria e Santiago.
Nos livros sobre a epopéia magelânica, não há qualquer indício de tal frase do navegador.

Martin Behaim (1459-1507), cosmógrafo, astrônomo e explorador, contemporâneo de Fernão de Magalhães, pintou um dos primeiros globos terrestres conhecidos. O Globo de Behaim, também conhecido como Globo de Nuremberga, seguiu a idéia de um globo construído antes por volta de 1475 para o papa Sisto IV. http://pt.wikipedia.org/wiki/Martin_Behaim

Foi pela influência do bispo católico de Burgos, que Fernão de Magalhães conseguiu a aprovação do projeto de sua viagem em volta do mundo por parte de Carlos V.
Coube à expedição de Fernão de Magalhães, em 1521, levar o primeiro padre católico ao território filipino.

Diogo Ribeiro, foi quem produziu o mapa mundi da viagem de Fernão de Magalhães. No rodapé desse mapa, na parte inferior, próximo ao vinco central, consta claramente o aval dos “Catholicos”. O mapa se encontra ainda hoje, na Biblioteca Apostólica Vaticana, e podemos vê-lo na biografia do seu autor, abaixo:

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Fim da farsa.

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Fontes:

- Arquivo Nacional da Torre de Tombo - A. N. T. T. , Corpo Cronológico, parte I, maço 101, doc. 87 - publicado por Antonio Baião: A viagem de Fernão de Magalhães por uma testemunha presencial, in Arquivo Histórico de Portugal, volume I, Lisboa, 1932.

- Queirós Velloso - Fernão de Magalhães - A Vida e a Viagem, Lisboa, 1941.