Por Fernando Nascimento
Na internet circula uma célebre lorota, que dá conta que o
grande navegador Fernão de Magalhães (1480-1521) teria dito:
"A Igreja diz que a Terra é plana, mas sei que ela é
redonda, porque vi a sombra dela na Lua, e acredito mais numa sombra do que na
igreja."
Isso não passa de mais uma daquelas potocas inventadas para
fazer parecer que a Igreja é ignorante. Tal frase nunca foi proferida por
Fernão de Magalhães, por isso sempre é exposta sem qualquer fonte.
A Verdade:
Ao contrário do que pensam os caluniadores, a esfericidade
da terra é conhecida desde os tempos antes de Cristo. Crates de Malus (145
A.C.) foi o primeiro a construir um globo para representar a Terra.
(Enciclopédia Espasa Calpe, Barcelona, verbete Mapa, vol. XXXII, pág.1132).
A Igreja nunca disse que a Terra era plana, santo Agostinho
(354-430), doutor da Igreja, no seu livro "A Cidade de Deus" (De Civitate Dei), mais de 1.000 anos
antes de Fernão de Magalhães nascer, escreveu:
"Apesar de estar supostamente ou cientificamente
provado que a Terra tem a forma esférica, disto não decorre que o outro lado do
mundo seja desprovido de mares, nem decorre imediatamente que, sendo desprovido
de mares, seja habitado."
Também muito antes de Fernão de Magalhães nascer, Santo
Alberto Magno, que viveu entre 1193 e 1280, e que foi mestre de São Tomás de
Aquino, defendeu a esfericidade da Terra. São Tomás de Aquino - o maior gênio
medieval - tratou da questão em pauta na Suma Teológica (I., q.1, a.1, ad2). A
imagem de Nossa Senhora de Montserrat, padroeira da Catalunha, é do século XI, tanto
ela como o menino Jesus, têm nas mãos o globo terrestre, da qual a Virgem Maria
é Rainha e da qual Cristo é Criador e Senhor. Se a Igreja representava a Terra
por um globo séculos antes de Fernão de Magalhães nascer, é porque sabia que
ela é redonda, não fazendo qualquer sentido a frase fantasiosa que inventaram
para Fernão.
Só isso põe fim a
lorota.
Os navegadores portugueses e espanhóis eram fundamentalmente
católicos, altamente devotos e desde a Escola de Sagres estudavam os conceitos
de navegação considerando a redondeza do planeta. Além disso, Magalhães era
católico fervoroso, teve problemas em manter a fidelidade religiosa de seus
comandados, empreendeu conversões e não se concebe que se reportasse de forma
irônica a uma “interpretação” da Igreja. Sua armada era composta de cinco
navios, que tinham inclusive nomes de santos católicos e da Trindade: Trinidad, San Antônio, Concepcion, Victoria
e Santiago.
Nos livros sobre a epopéia magelânica, não há qualquer
indício de tal frase do navegador.
Martin Behaim (1459-1507), cosmógrafo, astrônomo e
explorador, contemporâneo de Fernão de Magalhães, pintou um dos primeiros
globos terrestres conhecidos. O Globo de Behaim, também conhecido como Globo de
Nuremberga, seguiu a idéia de um globo construído antes por volta de 1475 para
o papa Sisto IV. http://pt.wikipedia.org/wiki/Martin_Behaim
Foi pela influência do bispo católico de Burgos, que Fernão
de Magalhães conseguiu a aprovação do projeto de sua viagem em volta do mundo
por parte de Carlos V.
Coube à expedição de Fernão de Magalhães, em 1521, levar o
primeiro padre católico ao território filipino.
Diogo Ribeiro, foi quem produziu o mapa mundi da viagem de
Fernão de Magalhães. No rodapé desse mapa, na parte inferior, próximo ao vinco
central, consta claramente o aval dos “Catholicos”. O mapa se encontra ainda
hoje, na Biblioteca Apostólica Vaticana, e podemos vê-lo na biografia do seu
autor, abaixo:
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Fim da farsa.
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Fontes:
- Arquivo Nacional da
Torre de Tombo - A. N. T. T. , Corpo Cronológico, parte I, maço 101, doc. 87 -
publicado por Antonio Baião: A viagem de Fernão de Magalhães por uma testemunha
presencial, in Arquivo Histórico de Portugal, volume I, Lisboa, 1932.
- Queirós Velloso -
Fernão de Magalhães - A Vida e a Viagem, Lisboa, 1941.