Por Fábio Morais
O
Livro de Aníbal Pereira Reis é uma mescla de testemunho pessoal e explanações
exegéticas voltadas contra a doutrina católica do primado de Pedro. O próprio
autor deixa entrever a mistura no prólogo do ensaio: “Este livro, obra de consciência, é depoimento. É estudo. E é
contestação. Como depoimento relata uma experiência vivida e vívida” (p.5).
Que
o livro é depoimento, concordamos. Que é contestação o sabemos. Mas aquele
“obra de consciência...” fica por conta do risco do sr. ex-padre...
No
capítulo intitulado ‘EXEGESE LITERAL DE MT 16,18’, capítulo que analisaremos
agora, Aníbal Reis não deixa de muito dizer das suas dúvidas e angústias como
sacerdote católico romano. Estas não nos interessam senão indiretamente,
porquanto revelam um estado de espírito que, é certo, costuma predispor a um
desequilíbrio progressivo de conseqüências muitas vezes lamentáveis. Dúvidas e
angústias terríveis também as teve Martinho Lutero como monge agostiniano e...
deu no que deu...
Mas
não somos psicólogos. Se vivo ainda o nosso adversário aconselharíamos
procurasse um bom terapeuta. Aqui visaremos somente os seus argumentos, os
quais esmagaremos com uma crítica sólida, resultante de uma exegese sadia que,
à parte das preferências individuais, focalizará somente a verdade objetiva e
inelutável.
A EXEGESE VERDADEIRA (1)
O
centro gravitacional da exposição anibalina no referido capítulo constitui-se
da surrada distinção existente no grego entre as palavras ‘petros’ e ‘petra’.
Assim ‘petros’, em Mt 16, indicaria um pedaço de pedra, enquanto ‘petra’ uma
rocha firme, o Filho de Deus e não o apóstolo.
Com
um linguajar aparatoso e arrogante, Aníbal ressuscita uma tese há muito julgada
inverossímil pelos mais eminentes intérpretes do próprio protestantismo.
O
ex-padre tinha diante dos olhos um monumento da polêmica católica brasileira,
intitulado: ‘A Igreja, a Reforma e a
Civilização’, do Pe. Leonel Franca. Tinha, porque dessa obra extraiu parte
de uma tradução da Epístola de S. Clemente Romano aos coríntios (Cf. pp. 199-200).
Conhecia então, certamente, uma significativa passagem onde o imbatível
defensor da Igreja (2), sem o menor receio de ser contraditado (como de fato
nunca foi), afirma do descrédito em que caiu, entre os eruditos reformados, a
exegese que o ex-sacerdote resolveu patrocinar:
"É aliás tão
esdrúxula, tão ábsona a interpretação dos velhos protestantes a distinguirem
entre Pedro e interpretação dos velhos protestantes a distinguirem entre Pedro
e pedra, que hoje já a desamparam quase todos os críticos heterodoxos... Os
próprios protestantes conservadores perfilham já uma hermenêutica mais
racional”
(3).
E
Leonel Franca escreveu há mais de oitenta anos! Há mais de oitenta anos!
Testemunho
importantíssimo e insuspeito legou o ilustre pastor Otoniel Mota, reconhecido
cultor da nossa língua portuguesa e, cremos, tido sempre pelos seus por homem
sério e ponderado. Sobre a interpretação aferradamente proposta por Aníbal,
dizia o falecido presbiteriano há mais de sete décadas que estava:
"Completamente
abandonada pelo protestantismo culto da Europa e da América do Norte” (4).
Há
mais de setenta anos!
Há
mais de sessenta anos Huberto Rohden, em admirável trabalho sobre a vida e obra
de S. Agostinho, afirmava que:
"Exímios
luminares do protestantismo – como Bengel, Barns, schaff, Alford, Godet,
Broadus, Bonnet, Bruce, Plummer, David, Smith, Meffat, Cook, Farrar, Sunday,
Hort, Otoniel Mota, e o príncipe dos eruditos comentadores reformados Meyer –
sustentam, com o grosso dos atuais exegetas católicos romanos, que a pedra é
Pedro"(5).
Eis
aí dezoito eruditos, colhidos nos próprios arraiais protestantes, a
bombardearem a interpretação anibalina no “livro irrefutável”.
E
isso há mais de sessenta anos!
Há
cerca de meio século J. J. Von Allmen, erudito protestante, dizia no seu ‘Vocabulário Bíblico’ que:
"Os interpretes
protestantes concordam sempre mais que esta rocha, sobre a qual Jesus quer
edificar sua Igreja, não é a fé professada por Pedro, nem a confissão da
messianidade de Jesus... mas a própria pessoa de Pedro” (6).
A
exegese anibalina de Mt 16,18, por conseguinte, é uma exegese caduca, uma
velharia ultrapassada, carcomida pelo tempo e fadada ao esquecimento universal.
Mas
requer o bom senso que nenhum erro, por velho que seja, deixe de ser denunciado
quando ousar vir à tona com ares superiores de verdade. Em face disso, não
vemos outra alternativa senão acompanhar Aníbal Reis na sua exposição e
desmantelar, de uma vez para sempre, os seus argumentos falsos.
Para
revestir de credibilidade a tese baseada na distinção entre os termos gregos,
Aníbal cita a Concordância Bíblica de Strong, assim como os lexicógrafos Lídel,
Scott e Jonh Groves; alega Homero na Ilíada e na Odisséia. Depois volta aos
dicionários e, confiante, convoca em seu auxílio o grego-português de Rudolf
Bolting, para logo, satisfeito, ajuntar passos sagrados como se encontram na
versão grega do Velho Testamento composta por Áquila. Tudo para provar, como
por a+b, que há uma distinção elucidativa no verso de Mateus: Pedro é ‘petros’,
“uma pedra solta”, “uma lasca de pedra”, “uma pedrinha”, “um seixo”. Jesus
Cristo, este sim, é “petra”, “uma rocha grande e firme”, “uma penha
inamovível”. Logo, nós, os católicos, fechamos os olhos para a mais cristalina
das verdades, que em Mt 16, Pedro não pode ser a pedra, visto não comportar o
seu nome semelhante significado.
Lamentamos,
deveras, haver sido debalde a insistência de Aníbal em estabelecer uma tal
diferenciação, e isso, porque a conhecemos e acatamos. A distinção existe, é um
fato. Todavia, em nada prejudica a tese católica, e por três razões
simplicíssimas:
1ª)
Não é absoluta.
2ª)
Não vem ao caso para Mt 16,18, sendo a diversidade de termos ali claramente
compreensível.
3ª)
Aplicada ao texto o desfigura totalmente.
Aprofundemos
a questão.
A
diferença que se dá em grego entre ‘petros’ e ‘petra’, diferença que vai do
seixo à rocha, é relativa. Apesar de existir a dessemelhança, ‘petros’ – e isso
precisa ficar muito claro – TAMBÉM PODE SIGNIFICAR UMA PEDRA GRANDE E FIRME,
não tendo, em absoluto, que indicar invariavelmente uma pedrinha ou seixo.
Segundo reconhece o Dr. Oscar Cullmann, uma das maiores autoridades no assunto,
“a diferença de significação entre petros e petra não é essencial” (7). Em
apoio desta asserção, remete o Dr. Cullmann a uma nota ao pé da página que,
entre outros autores, recorda Galieno, o qual afirma das palavras ‘petros’ e
‘petra’ que são permutáveis. Digno de menção é ainda uma vez o Pe. Leonel
Franca: “Ora, que significa o nome dado a Simão? Petros em grego, quer dizer,
como pedra em português, tanto uma pedra solta, calhau, seixo (acepção mais
freqüente), quanto uma pedra firme, rocha, penedo” (8). O mesmo atesta o Profº
W. Mundle, colaborando para ‘O Novo Dicionário Internacional de Teologia do
Novo Testamento’: “Não se pode... manter
uma distinção rigorosa entre os sentidos: petros pode significar rocha”(9).
Com
declarações desse teor, sejam de autoridades católicas, sejam de protestantes,
poderíamos facilmente encher um volume.
Objetará
talvez alguém que se quisesse o redator do evangelho apresentar Simão como a
pedra do texto teria empregado ‘petra’ em ambas as partes da sentença. A
objeção, entretanto, perde inteiramente a força quando analisados certos
pormenores relativos ao problema.
Via
de regra, em grego, os nomes de homens terminam em ‘as’, ‘es’, ‘is’, ‘os’ e
‘us’. Uma vez que, como acabamos de demonstrar, tanto ‘petros’ como ‘petra’
comportam o significado de rocha, o responsável pelo evangelho grego de Mateus,
diante do ‘kepha’(10) aramaico, usou para expressá-lo em grego o termo
‘petros’, que melhor se adaptava ao nome masculino pela terminação ‘os’. Como
ressalta D. Estêvão Bettencourt, “o emprego sucessivo de petros e petra se deve
a afinidade entre petros e o gênero masculino” (11). O autor do Mateus grego,
portanto, se conformou ao uso então vigente nessa língua. Não tencionou frisar
diferença alguma entre os vocábulos, mas, sabendo que admitiam o mesmo
significado, verteu por ‘petros’ o ‘kepha’ do aramaico, cônscio que estava da
capacidade de discernimento dos que o haveriam de ler.
O
Profº Lucio Navarro expõe muito bem o pensamento católico em sua ‘Legítima
Interpretação da Bíblia’:
“Embora a nossa língua
não exprima com tanta perfeição, como o francês, o trocadilho usado por Nosso
Senhor, todavia quem lê o texto português o percebe logo facilmente, pois entre
nós até as crianças sabem que Pedro quer dizer pedra” (12).
E
depois de remeter os seus leitores ao mundialmente conhecido ‘Dictionaire Grec
Français’, de A. Bailly, o qual alista ‘pedra’, ‘rochedo’ (pierre, rocher) como
significados de ‘petros’, arremata o Profº Navarro:
“Se
o intérprete grego chamou a Pedro petros e não petra, é porque no grego os
nomes próprios masculinos terminam em regra geral em as, es, is, os, us”(13).
Por
onde se constata que a diversidade de palavras na sentença do evangelho, tão
alardeada por Aníbal Reis, em nada diminui o valor demonstrativo da exegese
católica.
Necessário
é dizer ainda que, tomada a distinção como a quer o ex-padre, o trecho mateano
soaria absurdo e indigno dos lábios do Salvador. Vejamos a explicação
anibalina: “Tomando a Bíblia num todo, podemos dizer, parafraseando a assertiva
do Redentor: Tu és Pedro, um seixo, uma pedra solta, e sobre esta pedra
inamovível, esta rocha inabalável = o Filho de Deus vivo, que tu, inspirado por
meu Pai, afirmaste que eu sou, edificarei a minha Igreja. Cristo,
evidentemente, prometia edificar a sua Igreja sobre si próprio” (p.52).
Muito
antes de Aníbal Reis propunha desconchavo semelhante o falecido pastor Eduardo
Carlos Pereira, para quem o texto deveria ser lido assim:
“Eu também confesso o
teu nome: Tu és Pedro e sobre esta rocha que acabaste de assinalar na confissão
que meu Pai pôs em teus lábios e de que tens a honra de ser um fragmento edificarei
a minha Igreja”(14).
Quanta
apelação!
Vê
de imediato qualquer pessoa sensata o quanto de absurdo está contido nessas
interpretações descabeladas(15).
À
Aníbal Reis e, por extensão, ao seu colega calvinista, diga-se que nem com mil
bíblias tomadas num todo se poderiam sustentar tão ridículas paráfrases, que
contra si têm texto e contexto de Mt 16,18.
Em
toda a perícope, está fora de dúvida, Jesus Cristo dirige-se exclusivamente a
Pedro: “Bem aventurado és, Simão...”, “Eu te declaro...”, “Eu te darei...”,
“tudo o que ligares...”, “tudo o que desligares...” Não há como isolar na
passagem, cujas partes se articulam, se sucedem harmônica e coerentemente, um
inciso em que Jesus entrasse a falar de si. Ora, mas se em toda a perícope
refere-se ele a Simão e somente a Simão, é, logicamente, ao mesmo Simão que se
refere quando diz “sobre esta pedra”, pois foi a ele que antes impôs o nome de
pedra (Cf.Jo 1,42), cuja razão de ser agora explicita e desenvolve. Impôs, com
efeito, a Simão o nome de ‘kepha’ (pedra, rocha) não por outro motivo, mas
porque sobre ele, querido e assistido pelo alto, repousaria a Igreja visível,
como sobre a rocha repousa o edifício para conservar a estabilidade (Cf. Mt
7,24-25; Lc 6,48). Eis a interpretação literal e óbvia do verso mateano.
Ditas
estas coisas, reduz-se a nulidade toda a argumentação do ex-vigário. A verdade
é que, se quiséssemos, poderíamos parar por aqui, satisfeitos com o até então
desenvolvido. Não o faremos porém, mas seguiremos de perto, até o final, as
arremetidas equivocadas do paladino batista, embora sabendo que, em última
análise, todos os argumentos do ex-padre dependam, para viver, da distinção
repetidamente aduzida por ele. Perdoe-nos, pois, desde já, o leitor, porquanto
teremos também que repetir, uma e outra vez, o que até aqui dissemos.
“O texto grego de Mt.
– escreve Aníbal – exprimiu o pensamento de Cristo por meio de duas palavras
cognatas, semelhantes na forma, mas com significados claramente distintos,
porquanto cada um demonstra um sentido particular com aplicação própria. O
irmão de André é Pedro (pétros), um seixo, uma parte solta da rocha, um
fragmento. Cristo, sim, é a pedra (pétra), a rocha inabalável, fundamental.
Pedro participa do fundamento como os demais apóstolos e os profetas” (p.47).
Já
vimos que a questão do significado de ‘petros’ e ‘petra’ é relativa. Os dois
vocábulos podem significar a mesma coisa, e se o autor grego optou por palavras
distintas, o fez não para firmar uma diversidade de sentidos ou porque Jesus
quisesse distingui-las uma da outra no seu pensamento, mas porque a índole do
idioma grego pedia a distinção, em jogo que estava um nome próprio masculino.
Segue
Aníbal: “Em meu raciocínio evidenciou-se
a conclusão insofismável: Se Mateus, inspirado, ao expressar o pensamento do
Divino fundador da Igreja não quisesse fazer a distinção entre pétros e pétra,
por que não disse logo = Tu és pedra e sobre esta pedra...? Se, inspirado, usou
de dois vocábulos carregados de notável distinção semasiológica no usus
loquendi, é mister respeitar-se essa distinção em nome da fidelidade à palavra
de Cristo” (p.47)
A
"conclusão insofismável" do adversário é risível!
Porque
no evangelho grego não foi usada uma só e mesma palavra já o esclarecemos.
Far-se-á necessário nos repetirmos? Teremos que novamente lembrar o fato (este
sim, insofismável) de que ‘petros’ significa também uma rocha grande e firme e
que o grego do evangelho se prendeu a uma praxe lingüística que em nada altera
o significado do texto? O sentido da passagem é exatamente aquele questionado
por Aníbal: “Tu és pedra e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”. No
decorrer deste trabalho veremos isso mais vezes.
Aníbal
ressalta que, se inspirado, o autor grego se serviu de dois termos carregados
de notável distinção semasiológica no usus loquendi, é mister respeitar-se essa
distinção em nome da fidelidade à palavra de Cristo.
Mas
não há nenhum “desrespeito”! Respeitar a referida distinção não impõe que a
devamos acatar em todas as circunstâncias onde nos depararmos com a palavra
‘petros’, pois tal distinção, como já frisamos não é, de modo algum, absoluta.
Reconhecemos, por isso, em Mt 16,l8, palavras distintas, não significados
distintos. O fazemos, porventura, gratuitamente? Não. Muito pelo contrário! O
uso inter-cambiável de ‘petros’ e ‘petra’ também na literatura profana e ainda
a praxe do grego são razões poderosas, razões que militam em prol da
compreensão católica. Somos então fiéis não só à palavra de Cristo, mas ainda à
sã exegese e à quase dois mil anos de história eclesiástica, que sempre
enxergaram no filho de Jonas o fundamento visível da Igreja. O sentido de
“petros” determina-o o contexto!
Capcioso
é o argumento seguinte do ex-padre. Evasiva antiga, matreira, mas sem nenhum
valor: “Acresce, outrossim, uma observação
importante: Se se dá em vernáculo o sentido de um nome próprio de língua
diferente, não se faz por outro nome próprio. O nome próprio hebraico hamã
significa fortaleza e se entende por esse vocábulo, substantivo comum, uma
fortaleza e não o nome próprio Fortaleza, capital do Ceará. João (1,42) ao dar
no vernáculo grego, o significado do nome hebraico, Kephas, não o fez usando o
nome próprio Pétra = pedra ou rocha, mas o substantivo comum pétros, seixo,
fragmento de rocha, pois, como já verificamos, é este o significado do nome
Pedro” (p. 47).
O
que dizer desse arrazoado que Aníbal lança contra o primado de Pedro? Ora, a
proposição é falha. Falha, dizemos, quando bem considerada a intenção do quarto
evangelista, facilmente dedutível da passagem. Compreendida a intenção do
apóstolo, que, límpida, emana do contexto, estará, ipso facto, elucidada esta
parte do seu evangelho.
João,
em l,42, não está, rigorosamente, “traduzindo”. Ele visa “equivalência”, não
etimologia. No início do seu relato, antes do versículo 42, por duas vezes o
apóstolo refere palavras semíticas e fornece os seus equivalentes gregos. Os
vocábulos ‘Rabi’ e ‘Messias’ diz que correspondem aos gregos ‘Mestre’ e
‘Cristo’ (Cf. vv. 38.41). Da mesma maneira, quando observa que ‘kepha’ quer dizer
‘petros’, João está apenas equiparando nomes próprios. É como se alguém,
referindo-se a um inglês, dissesse: “O nome dele é Peter, que é o mesmo que
Pedro”. Estaria explicando que ‘Peter’, enquanto nome de pessoa corresponde, em
português, ao nome Pedro. Nos dois casos, portanto, um só objetivo. O erro
fundamental do argumento anibalino consiste no fato de que o ex-padre entende
que o apóstolo João estava a traduzir, qual dicionarista moderno, a palavra
‘kepha’, dizendo significar esta uma pedrinha, um seixo. Nada disso! Escrevendo
em grego, e citando Nosso Senhor proferir, dando como nome próprio a Simão, uma
palavra aramaica, quis João somente informar que tal nome próprio aramaico
equivalia a tal nome próprio grego; que ‘kepha'’, enquanto nome aramaico,
possuía em ‘petros’ o seu correspondente helenístico. E se disse que
correspondia a ‘petros’ e não a ‘petra’, o fez em vista daquela conformação de
que já dissemos. O Profº Navarro é também, sobre este pormenor, esclarecedor:
“João preferiu dizer
que Cefas significa Pedro, para mostrar a que nome próprio de pessoa
correspondia o nome imposto a Simão”(16).
Confirmação
abalizada de quanto já dissemos!
Continua
o ex-sacerdote: “É evidente a distinção
na mente mateana grega entre pétros, sobrenome [sic!] dado ao apóstolo, e
pétra, a rocha, sobre a qual edificar-se-ia a Igreja” (p.47). E ainda: “Se o
texto acata esta distinção feita também pela literatura profana e, em
consequência, emprega palavras diferentes, por que rejeitá-la-íamos nós?”
(p.47).
Mas
o texto não "acata" distinção alguma! Apenas registra grafias
diferentes de uma só realidade. Tais grafias determinam-nas – e repetiremos
sempre que for necessário – o grego neotestamentário em sua maneira de
assinalar os nomes das pessoas e das coisas. Termos distintos, sim, mas não
sentidos distintos. Quando bem analisado Mt 16,18, a conclusão inevitável é que
no texto constam ‘petros’ e ‘petra’ porque ‘os’ e não ‘as’ é a terminação
requerida, pelo idioma no qual chegou até nós o evangelho de Mateus, para os
nomes masculinos.
Prossegue
a retórica antipetrina do ex-sacerdote: “Jesus
faz clara e patente a diferença entre as duas palavras. Ao chamar o apóstolo
serve-se do nome masculino pétros (=seixo, pedra solta) e para significar a
base de sua Igreja, edificada sobre a estabilidade diante dos vendavais do mal,
utiliza-se do vocábulo feminino pétra que quer dizer rochedo, rocha,
cordilheira” (p.47).
Como
se ‘petros’ também não significasse rochedo, rocha, cordilheira...
Mas
Aníbal cometeu um deslize imperdoável: “Jesus faz clara e patente a diferença
entre as duas palavras”. Não! Jesus não diferencia coisa alguma, e pela razão
muito simples de que falava aramaico(17), onde inexiste qualquer diferença, mas
usou a mesma palavra ‘kepha’ (pedra, rocha) em ambas as partes da sentença.
Segue
Aníbal Reis: “Aliás, noutra passagem das
Escrituras, em Jo 1,42, encontra-se declarada esta diferença, quando Jesus
asseverou: “Tu serás chamado kephas”. Em aramaico, em vista da pobreza do
idioma falado por Jesus(18), kephas quer dizer pedra. A fim de revelar com
clareza o pensamento de Jesus, que queria exprimir aquela diferença entre pétra
e pétros, o autor inspirado, João, acode: “que quer dizer Pedro (pétros)”
(p.48).
Paremos
um pouco e analisemos mais de perto este novo recurso anibalino.
Em
resumo, ele quis dizer que o pensamento de Jesus estava voltado para a
distinção entre uma rocha e uma pedrinha. Não podia, entretanto, o Senhor, em
face da pobreza do aramaico, expressá-la verbalmente. João, por conseguinte,
explica a intenção de Jesus, esclarecendo que o Salvador com a palavra ‘kepha’
estava indicando um fragmento de pedra, um pedregulho, um seixo. O evangelista,
no arrazoado do ex-sacerdote, serviu ao Espírito Santo como intérprete do
pensamento de Cristo, que estava impossibilitado de se fazer compreender no
parco dialeto dos seus contemporâneos.
O
argumento do ex-padre é um deslavado sofisma, habilmente arquitetado para
enredar os leitores menos perspicazes. Até falta de clareza ele atribui ao
Filho de Deus! Deplorável!
Reiteramos
que João, inspirado por Deus, apenas destacou o nome próprio grego equivalente
ao aramaico ‘kepha’. Se disse que tal nome era ‘petros’, foi pelas razões que
temos repetidamente aduzido.
A
quase que totalidade das traduções protestantes apresenta o termo ‘petros’
aplicado a Simão pelo discípulo amado COMO NOME PRÓPRIO DE PESSOA (Pedro) e não
como substantivo comum a designar um seixo. ‘kepha’ – dizem estas mesmas
traduções – equivale a ‘petros’ COMO NOME PRÓPRIO (Pedro), o qual significa
pedra, rocha. ‘A Bíblia na Linguagem de Hoje’, execrada por Aníbal Reis, embora
produto de uma iniciativa da ‘Sociedade Bíblica do Brasil’ (órgão de natureza
protestante) expressa com muita correção o sentido do versículo joanino: “O seu nome é Simão, filho de João, mas de
agora em diante seu nome será Cefas. (Cefas é o mesmo que Pedro, e quer dizer
pedra)”. Como dissemos, é um equívoco tomar o quarto evangelista por um
tradutor moderno. Não é isso o que ele tenciona ser em 1,42. Ali ele refere um
fato que aponta para uma verdade de natureza teológica: Simão recebe um novo
nome, que revela uma missão singular (Cf.Gn 17,5-8). Este nome novo é ‘Petros’
(e já explicamos, à saciedade, o motivo), cujo significado é pedra, rocha,
conforme já constatamos. E qual é a missão de Petros? Fazer a pergunta é
respondê-la!
Aníbal
pretende que se não existisse diferença determinante entre ‘petros’ e ‘petra’
no pensamento de Jesus em Jo 1,42 o evangelista ter-se-ia abstido de qualquer
comentário adicional às palavras de Cristo: “Se
inexistisse esta diferença, o texto joânico, decerto, simplesmente ter-se-ia
silenciado. Se o autor inspirado do quarto evangelho faz a distinção, por que
rejeitá-la? Só para acatar as pretensões de uma teologia destinada a endeusar
um homem?” (p.48).
É
incrível! Os malabarismos do ex-sacerdote, os expedientes indignos usados por
ele, não deixam dúvidas quanto a fragilidade da causa que patrocina. O livro do
ex-padre é fraquíssimo!
João
não acudiu com o “que quer dizer Pedro” (Petros) para realçar um contraste. Já
o dissemos um sem número de vezes! Tampouco faz o evangelista qualquer
“distinção”, como quer o ex-vigário. Em parte alguma João estabelece que o nome
‘Petros’ conferido a Simão deve ser distinguido de ‘petra’ como o seixo do
rochedo. Repetiremos uma, duas, mil vezes: o apóstolo quis simplesmente
observar que em grego o nome próprio de homem equivalente a ‘kepha’ é ‘Petros’
(Pedro). João escrevia da Ásia Menor, escrevia em grego, para leitores de fala
grega. A observação, pois, se fazia necessária, ao passo que o silêncio
inoportuno, visto que ‘kepha’ é palavra aramaica. Quantos a conheceriam? A
observação joanina, definitivamente, convinha. O “ter-se-ia silenciado” de
Aníbal Reis é digno de pena! Revela somente até onde vai a obstinação de um
ex-padre revoltado contra a Igreja de Deus. Quanto ao “endeusamento” do Papa, é
pura invenção do protestantismo, renovada maliciosamente pelo seu advogado em
talas.
Continuam
os argumentos inconsistentes do ex-sacerdote: "Se pretendesse Jesus, de acordo com a teologia romana, fazer de
Pedro a pedra fundamental de sua Igreja teria empregado uma linguagem
inequívoca para deixar, perfeitamente informados, os seus discípulos,
habituados, como judeus, a identificar a pétra com Deus e seu Cristo. Ao invés
da distinção clara, que se encontra no versículo grego entre pétros (=Pedro) e
pétra (=pedra), poderia ter feito como alguns teólogos vaticanos, ardorosos
corifeus do papa, na sua obtusão mental, fazem: “Tu és a pedra”, ou “Tu és
Pedro e sobre ti edificarei...", ou ainda: “Tu és Pedro e sobre este Pedro
edificarei a minha Igreja” (p.48).
Aníbal,
motivado por um preconceito indisfarçável, alega que a linguagem empregada por
Nosso Senhor, se quisesse chamar de pedra a Simão, teria sido outra, e até as
fórmulas a serem usadas pelo Divino Mestre ele as sugere com uma seriedade de
pasmar. Não! Decerto não são os “teólogos vaticanos” que sofrem de obtusão
mental! É outra pessoa e os leitores já devem ter percebido quem é...
Jesus
Cristo, já o explicamos, falava aramaico. Em aramaico, como veremos em outro
capitulo, escreveu Mateus o seu evangelho. O Senhor, nesse idioma, disse: “TU ÉS PEDRA (KEPHA) E SODRE ESTA PEDRA
(KEPHA) EDIFICAREI A MINHA IGREJA”. Basta um simples olhar sobre a forma
original do texto, que, como lembra o Dr. Cullmann, “se pode reconstruir com toda a segurança”(19), para a imediata
constatação de que termos mais inequívocos não os poderia ter usado o Salvador.
Perfeito é o jogo de palavras na língua original do evangelho mateano, perfeito
o trocadilho saído dos lábios de Jesus.
E
em grego? Seriam dúbios os termos? Nem por sombra! Entre as duas metades da
sentença o responsável pelo Mateus grego interpôs a conjunção copulativa ‘kai’
(=’e’): “...E sobre esta pedra” (“...KAI epi taúte te petra"). O fez para
indicar que a pedra do segundo membro da frase é a mesma que, sob a forma
masculina ‘petros’, foi referida no primeiro membro. Não quisesse transmitir
isso, convinha empregasse a adversativa ‘MAS’ (= ‘dè’): “...MAS sobre esta
pedra” (“...epí DÈ taúte...”). Eliminaria assim, de uma vez para sempre,
qualquer possibilidade de identificação entre a pedra do segundo membro e o
apóstolo Simão. Tal, porém, não se deu. Ademais, como se não bastasse a clareza,
o texto reporta a pedra do segundo membro da frase à pedra do primeiro pelo uso
do demonstrativo ‘ESTA’ (em grego ‘taúte’): “...ESTA pedra” (“taúte te petra”).
‘ESTA’ qual? ‘ESTA’ que se acabara de indicar no mesmo instante: “Tu és Pedro”
(‘petros’, ‘pedra’, ‘rocha’); ‘ESTA’, a única de que se fala na perícope
evangélica; ‘ESTA’, que coincide com a mesma pessoa, à qual, no versículo
seguinte, de maneira insofismável, se concede, sob outra expressão metafórica,
a mesma autoridade soberana.
Aramaico
e grego, portanto, desmentem Aníbal Reis.
Quanto
às fórmulas que o “humilde” protestante sugeriu deveria ter usado o Salvador,
acha-se a sua teoria passível de igual objeção. Se quisesse, qualquer católico
poderia argumentar que, se pensasse o Senhor em indicar a si mesmo com a
metáfora da pedra, em Mateus, teria empregado um linguajar inequívoco. Poderia
ter dito: “Tu és Pedro e sobre esta pedra que sou eu edificarei a minha
Igreja”, ou: “Tu és Pedro, mas sobre mim edificarei a minha Igreja”. Depois, o
mesmo católico, coberto de razão, devolveria ao ex-padre as suas próprias
palavras: “Apesar de haver afanosamente procurado, jamais encontrei um texto
grego que de alguma dessas maneiras apresentasse o versículo 18 de Mt 16”
(p.48).
Continua
Aníbal Reis: “A simples semelhança
morfológica entre os vocábulos pétros (=Pedro) e pétra (=pedra) não pode
autorizar a substituição de um pelo outro” (p.48).
Todavia,
o mesmo significado abrangido por ambos os termos, aliado à forma conveniente
exigida pelo koiné neotestamentário, autoriza a referência de um ao outro para
a transmissão de uma verdade centrada neste significado idêntico.
Aníbal
Pereira Reis, no final do infeliz capítulo do seu fragílimo ensaio, cita as
palavras do próprio apóstolo Pedro. Segundo o ex-vigário, Pedro “decide o
assunto obstaculando em definitivo as pretensões do papa, que se julga
instalado acima de toda craveira humana” (p.48). E como, no sentir anibalino, o
Príncipe dos Apóstolos obstacula as “pretensões” do Sumo Pontífice? Eis o
trecho da primeira epístola de Pedro escolhido pelo protestante: “E,
chegando-vos para ele – pedra viva, reprovada na verdade, pelos homens, mas
para com Deus eleita e preciosa, vós também, como pedras vivas, sois edificados
casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios agradáveis a Deus
por Jesus Cristo. Pelo que também na Escritura se contém: Eis que ponho em Sião
a pedra principal da esquina, eleita e preciosa; mas, para os rebeldes, a pedra
que os edificadores reprovaram essa foi a principal da esquina; e uma pedra de
tropeço e rocha de escândalo, para aqueles que tropeçam na palavra, sendo
desobedientes, para o que também foram destinados” (IPd 2,4-8).
Aí
está a passagem que vem “obstacular” em definitivo as pretensões do Papa!
Obstacular
por quê? Porque diz que Cristo é a “pedra viva”, a “pedra principal da
esquina”, a “pedra que os edificadores reprovaram”? De maneira nenhuma!
Jesus
é, realmente, a pedra angular de todo o edifício religioso do Cristianismo. É a
base, o alicerce, o fundamento indefectível da fé que leva o seu nome. Mas não
é este o ponto!
Há
pedra e pedra!
Cristo,
por exemplo, é a luz do mundo por essência, mas quis fazer dos seus discípulos
também eles luz do mundo por participação (Cf. Jo 8,12; Mt 5,14). Da mesma
maneira, ainda que ele mesmo a pedra por essência, desejou fazer de Simão a
pedra visível de sua Igreja. Pedra constituída por ele, totalmente dependente
dele, de cujo poder deriva a solidez.
O
texto de Pedro alegado por Aníbal a Igreja o conhece há quase vinte séculos e,
contra o primado, não prova migalha de coisa nenhuma.
Finalmente,
conclui o ex-padre o capítulo citando ainda Simão: “Pedro, apóstolo de Jesus Cristo” (IPd 1,1), depois do que comenta: “Se
se considerasse revestido do múnus de sumo pontífice a si atribuído pela
dogmática romana tê-lo-ia mencionado... Perante suas declarações seria ilícito
atribuir-lhe o encargo de pedra fundamental da Igreja e, caso o fizéssemos,
incorreríamos no perigo de tropeçar na Palavra” (p.49).
Jamais!
Não
existia ainda o protestantismo para ilaquear a boa fé dos simples. Ninguém
punha em dúvida a autoridade de Pedro, ninguém o chamava de anticristo. O
universo cristão sabia ser o filho de Jonas o primeiro homem da Igreja, homem
cuja liderança fazia avançar mais e mais a obra evangelizadora, o grande
capitão da pesca de almas inaugurada no dia de Pentecostes, onde três mil se
converteram (Cf. At 2,41); pesca que continua ainda e há de findar somente
quando voltar o Rei; pesca hoje conduzida pelo legítimo sucessor daquele que
recebeu de Jesus o cajado das suas ovelhas e dos seus cordeiros e que, amparado
pelo divino Paráclito, levou até ao martírio a missão de apascentar o rebanho.
Capítulo
extraído do livro “O PRIMADO DE PEDRO E
DOS BISPOS DE ROMA: RÉPLICA CONTUNDENTE AO LIVRO "PEDRO NUNCA FOI
PAPA!" DO EX-PADRE ANÍBAL PEREIRA REIS” do autor Fábio Morais.
------------------------------
(1)
Alguns autores negam que as palavras ditas a Pedro em Mt 16 foram alguma vez
pronunciadas por Cristo. Aqui não abordaremos tal problema, visto que Aníbal
não nega a autenticidade do texto em questão. Lembramos, contudo, que tanto a
crítica externa (que estuda os códices antigos e a transmissão do texto sagrado),
como a interna (que se ocupa da análise do texto à luz da totalidade do
evangelho) não apóiam, em absoluto, tais negativas (Cf. DANTAS, Pedro Anísio
Bezerra., ‘A Igreja – O Reino de Deus na Terra’, A Imprensa, Paraíba, 1966, pp.
101-104).
(2)
Jefferson Magno Costa, conhecido autor protestante, chama, em livro prefaciado
por Abraão de Almeida, com razão o Pe. Franca de “moderno apologista da fé
cristã” (‘Provas da Existência de Deus’, Editora Vida, São Paulo, 1995, p.94).
(3)
Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1934, pp.19-20.
(4)
‘O Papado e o Padre Leonel Franca’, São Paulo, 1935, p.5.
(5)
‘Agostinho’, Epasa, Rio de Janeiro, 1946, p.197.
(6)
Aste, São Paulo, 1972, p.292.
(7)
‘Pedro, Discípulo-Apóstolo-Mártir’, Aste, São Paulo, 1964, p.21.
(8)
‘O Protestantismo no Brasil’, Agir, Rio de Janeiro, 1946, p.197.
(9)
Edições Vida nova, São Paulo, 1989, Vol.III, p.495. De conformidade com isso, o
Dr. Cullmann junta-se ao melhor da exegese protestante, interpretando
corretamente Mt 16,18 e sepultando de vez a tese falsa fundada na distinção
entre os vocábulos gregos: “O jogo de palavras que já aparece com suficiente
clareza no texto grego, sugere a identidade objetiva entre petra e petros, pois
uma distinção clara entre os significados específicos das duas palavras não é
possível. Mas é a forma original aramaica – que se pode reconstruir com toda a
segurança – que nos mostra a identidade formal e objetiva entre petra e petros,
melhor dito, entre petra, kepha e petros. A identidade de petra com petros é na
verdade assegurada pela identidade de ambos com kepha... Portanto, se Mt 16,18
nos obriga a identificar formal e objetivamente petra com petros, isto mostra
quanto o apostolado – e dentro dele sobretudo a posição que ocupa Pedro – faz
parte da revelação de Cristo... Petros em pessoa é esta pedra, e não a sua fé
ou a sua confissão” (em KITTEL, Gerhard., ‘A Igreja no Novo Testamento’, Aste,
São Paulo, 1965, p.329).
(10)
Alguns autores preferem a grafia ‘cefas’, outros ‘cephas’, outros ‘kefa’ e
outros ainda ‘kephas’. Optamos por ‘kepha’.
(11)
‘Diálogo Ecumênico’, Lumen Christi, Rio de Janeiro, 1989, p.75.
(12)
Campanha de Instrução Religiosa Brasil-Portugal, Recife, 1958, p.216.
(13)
Op. Cit., p.216.
(14)
‘O Problema Religioso da América Latina’, Livraria Independente Editora, São
Paulo, s/d, p.173.
(15)
Com muito acerto disse – embora não admita o Papado – o eminente exegeta
protestante J. A. Broadus: “A sugestão de alguns expositores que ao dizer “tu
és Pedro, e sobre esta pedra” referia-se [Jesus] a ele mesmo, envolve um
artificialismo repulsivo a qualquer mentalidade” (‘Comentário do Evangelho de
Mateus’, Casa Publicadora Batista, Rio de Janeiro, 1948, Vol. II, p.87.)
(16)
Op. Cit., p.215.
(17)
Sobre isso diz o Dr. Ariel Álvarez Valdés: “Podemos, pois, concluir que Jesus
falava o aramaico, como língua materna. Foi a língua que estruturou seu
pensamento, sua vida, seu coração” (‘Que Sabemos Sobre a Bíblia?’, Santuário,
São Paulo, 2002, Vol. IV, p.58). Outro autor de extrema competência no assunto,
o Profº Giovanni Magnani, apesar de sustentar a possibilidade de Jesus ter
conhecido e até mesmo falado, ocasionalmente, o grego, como também aquela de
ter sido hebraico – e não o aramaico – a sua língua materna, reconhece que “os
estudiosos, em sua maioria, parecem concordar que a língua materna de Jesus
tenha sido o aramaico e que nela se expressasse ordinariamente”. E ainda:
“Língua materna ou não, não se pode excluir que Jesus sempre e em toda parte
falasse o aramaico com as pessoas e com os próprios apóstolos” (‘Jesus,
Construtor e Mestre’, Santuário, São Paulo, 1998, pp. 224,226).
(18)
Confirma-se então o que dissemos. Se falava aramaico, Jesus não poderia, como
sustenta o ex-vigário, ter feito “clara e patente a diferença entre as duas
palavras” empregando ‘petros’ e ‘petra’.
(19)
Cf. nota 9.
Fimdafarsa