Igreja Memorial Martinho Lutero |
ALEMANHA - O Terceiro Reich caiu em 1945, mas quem entra na Igreja Memorial Martinho Lutero pode achar que voltou no tempo.
Este é o último
templo nazista da Alemanha, cujo interior é decorado com
símbolos de exaltação
a Adolf Hitler e à supremacia ariana.
Até 2005, ainda era usado para cultos protestantes, mas foi fechado depois que
um pedaço da fachada desabou.
Desde então, a Paróquia
luterana de Tempelhof está mobilizada para arrecadar fundos para a reforma
de toda a estrutura.
Para Isolde Bohm, decana da
paróquia, este é um esforço que vale a pena:
O prédio vai continuar servindo
de alerta às futuras gerações, uma forma de lembrar como a sociedade
e a Igreja
Protestante se alinharam com os nazistas nos anos 30.
Na Martinho Lutero, símbolos sacros misturam-se aos
políticos, um sinal claro do quanto o Movimento Cristão Alemão (DC, sigla em alemão=
Deutsche Christen) foi poderoso no regime de Hitler.
Ao historiador
Stephan Linck, que investigou a culpa admitida pelos luteranos em relação a
Hitler, foi perguntado se os escritos de Lutero contra os judeus tiveram um
papel na “sintonia” com o antissemitismo nazista. – Respondeu o historiador – as
profundas raízes do antissemitismo da Igreja Evangélica afundavam no
nacionalismo alemão; no entanto, sim, muitos protestantes se referiam aos
escritos de Lutero contra os judeus para demonstrar que eles eram os ANTISSEMITAS ORIGINAIS: no fundo, Lutero já havia incitado a perseguir os judeus e a
incendiar as sinagogas.
Os
escritores Dennis Prager e Joseph Telushkin revelam:
“[...] os escritos posteriores de Lutero,
atacando os judeus, eram tão virulentos que os nazistas os citavam
freqüentemente. De fato, Julius Streicher (nazista), argumentou durante sua
defesa no julgamento de Nuremberg que nunca havia dito nada sobre os judeus que
Martim Lutero não tivesse dito 400 anos antes”. (Dennis Prager e Joseph Telushkin: Why the Jews? The
reason for anti-Semitism [Por que os Judeus: A causa do anti-semitismo] (Nova
York: Simon & Shuster, 1983), p. 107.)
Paradas dos Deutsche Christen (protestantes nazistas)
|
Bandeira dos nazi protestantes |
Marcha dos Deutsche Christen
|
Paramilitares da SA nazista com cartazes
dos”DeutscheChristen”,
Julho 1933 – Berlim
|
Em agosto de 1932, a Igreja
católica excomungou todos os dirigentes do Partido
Nazista. Entre os princípios anticristãos denunciados como hereges, a
Igreja mencionava explicitamente as teorias raciais e o
racismo.
Também em agosto de 1932, a
Conferência Episcopal Católica Alemã publicou um documento detalhado em que se davam
instruções de como se relacionar com o Partido Nazista. No documento, publicado
pela Conferência Episcopal Alemã, está escrito que era
absolutamente proibido aos católicos ser membros do Partido
Nacional-Socialista. Quem desobedecesse seria imediatamente excomungado.
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/noticias-arquivadas/26283-os-nazistas-foram-excomungados-por-bispos-alemaesEm 14 de julho de 1933, o governo de Hitler aprova uma nova Carta para a Igreja Protestante.
Com a intervenção maciça do
NSDAP (partido
nazista), as eleições nas
igrejas protestantes agendadas apenas em curto período de tempo mais tarde resultam em uma retumbante vitória para os “cristãos
alemães” (leia-se protestantes nazistas).
Hitler apela a todos os cristãos
protestantes, em
um discurso de rádio na véspera da eleição para votar a favor dos
“cristãos alemães”, com seu slogan: ”Igreja
deve continuar a ser da Igreja.”
Assembléia dos “Deutsche Christen”, em 13
de
Novembro de 1933 – Berlim
|
Como se observa, na união das
Igrejas protestantes com o Estado nazista, os “cristãos alemães” desejavam
alcançar absoluta conformidade organizacional e ideológica entre as Igreja Protestantes e o
Estado Nacional Socialista.
Após
seu sucesso triunfal nas eleições das Igrejas protestantes, em Julho de
1933 e a eleição do luterano Ludwig Muller para o cargo de Bispo do Reich, eles sentiram que
tinham atingido o auge de seu poder sobre a política da igreja no
Outono (europeu) de 1933.
O Bispo, luterano, Ludwig Muller,
saudando os protestantes nazistas
|
Reunião dos protestantes alemães. Na
faixa, os dizeres:
“Os cristãos alemães leem o Evangelho no
III Reich.”
|
Foto da época – Catedral Evangélica
Luterana
Landeskirche, em Brunswick
|
A figura de Jesus talhada em madeira no
púlpito, tem feições arianas,
no rosto, não há expressão de sofrimento,
mas de vitória.
|
Painel com símbolos cristãos, águia e
soldados nazistas
|
- Os membros da DC queriam uma forma de cristandade
que fosse explicitamente anti-judaica e se adequasse à necessidade de uma nação
``masculina``, poderosa - explica a historiadora Doris Bergen, especializada em
nazismo, - Muitos deles tinham dinheiro e posições de poder no governo, em
universidades. Logo, financiavam a decoração da igreja, a publicação de livros
e outras maneiras de divulgar suas idéias.
Como se vê nas palavras do pastor Wieneke, além
dos judeus, a Igreja Católica também era uma coisa a ser varrida da
Alemanha.
Dennis
Prager e Joseph Telushkin afirmam:
“Ao executarem seu
primeiro massacre em larga escala, em 9 de novembro de 1938, no qual destruíram
quase todas as sinagogas da Alemanha e assassinaram trinta e cinco judeus, os
nazistas anunciaram que a perseguição era uma homenagem ao aniversário de Martim
Lutero.” ( p. 107).
Hitler saindo de outra Igreja luterana. A
igreja é a Christus-und Garnisonkirche
der evangelisch-lutherische
Kirchengemeinde, em Wilhelmshaven, que registra em
sua cronologia de visitantes
ilustres: “Visita de Hitler à cidade e a Igreja em 1933.”
https://de.wikipedia.org/wiki/Christus-_und_Garnisonkirche_(Wilhelmshaven) |
No dia 21 de março de 1933, na cidade de Potsdam-Alemanha,
teve lugar a inauguração simbólica do III Reich dentro de duas igrejas
protestantes. A primeira cerimônia começou na luterana Igreja de São Nicolau, e
marchou em procissão com Hitler, Goebbles e partidários nazistas até a calvinista
Igreja de Garrison, onde outra cerimônia deu início ao terrível Terceiro Reich. - Fontes: Diário
de Goebbels; Guerreiros de Hitler, Guido Knopp, pág 27. e https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Garnisonkirche_Potsdam
Muitos confundem as cerimônias religiosas de Hitler como
tendo sido feitas em igrejas católicas devido a semelhança das indumentárias
dos sacerdotes católicos copiadas pelos luteranos, isso não procede. Todas as
cerimônias religiosas realizadas ou frequentadas por Hitler foram em igrejas
protestantes luteranas. Foi na igreja luterana que ele casou Goering, batizou a
filha de Goering, casou Goebbels e costumava fazer visitas e ser bem acolhido.
Hitler não simpatizava com a Igreja católica, e a tinha como
inimiga de seus planos. Eugenio Pacelli, futuro Papa Pio XII, na posição de
núncio apostólico da Baviera, entre 1917 e 1929, fez 44 discursos dos quais 40
denunciavam alguns aspectos da ideologia nazista emergente. Em carta endereçada
ao bispo de Colônia, em 1935, chama os nazistas de “falsos profetas, orgulhosos como Lúcifer.”
Sua primeira encíclica como papa Pio XII, de 1939, ganhou
manchete na primeira página no New York Times com o título: “Papa condena ditadores, os que violam os
tratados e o racismo”. Aviões aliados lançaram milhares de cópias da
encíclica em território alemão para despertar o sentimento antinazista. (Revista
Isto É, N° 2144, de 10 Dez de 2010)
Este
era o sonho de Hitler, sempre desejoso da benção de Lutero:
"Eu
insisto na certeza de que, mais cedo ou mais tarde — uma vez que nós assumirmos
o poder — o Cristianismo será superado e a igreja alemã estará sem um Papa e
sem a Bíblia. E LUTERO, se ele pudesse estar conosco, NOS DARIA A SUA
BÊNÇÃO." (Adolf Hitler, por N.H. Baynes,
Hitler's Speeches, Oxford, 1942, página 369).
Hitler em ambientes religiosos luteranos
|
Protestantes adventistas adorando Hitler
|
Esta
corrente dentro da Igreja Protestante representava 30% dos fiéis no início dos
anos 30 e a medida que crescia rapidamente terminou por eleger Hitler em 1934. Veja no mapa eleitoral da época a procedência dos votos para Hitler:
Na nave da Igreja Memorial Martinho
Lutero, havia também
um busto de Hitler, similar a este,
também retirado
e
substituído pelo de Lutero - conta Isolde.
|
A Luminária no hall de entrada, coma Cruz de Ferro das honrarias nazistas.
|
Sinos da Igreja, com a Cruz e a Suástica.
|
A decana revela ainda que era ``muito difícil``
fazer sermões na Martinho Lutero, ``porque as palavras ecoam nos símbolos à
volta``.
- É penoso falar sobre dignidade humana quando o entorno evoca um sistema que não tinha o menor respeito pela vida alheia, especialmente a dos judeus. Às vezes, tenho a sensação de que os símbolos acabam tendo mais poder do que as palavras.
É nestas horas que Isolde teme que, se reaberta, a igreja possa se tornar um lugar de peregrinação para os neonazistas. Doris acredita que esta possibilidade é remota.
- É penoso falar sobre dignidade humana quando o entorno evoca um sistema que não tinha o menor respeito pela vida alheia, especialmente a dos judeus. Às vezes, tenho a sensação de que os símbolos acabam tendo mais poder do que as palavras.
É nestas horas que Isolde teme que, se reaberta, a igreja possa se tornar um lugar de peregrinação para os neonazistas. Doris acredita que esta possibilidade é remota.
- Eles não são ligados à religião como eram os alemães depois da Primeira
Guerra - afirma. - Num primeiro momento, houve uma crise de fé, por causa de
tantas mortes sem sentido. A tática da Igreja, então, foi alinhar-se com o
movimento fascista, que era popular na sociedade.
O plano final é que a Martinho Lutero seja declarada patrimônio histórico da Alemanha e passe a receber fundos federais para manutenção. Mesmo que consiga ser reformado, o templo não voltará a abrigar serviços religiosos regulares. A nave é grande demais para o tamanho da comunidade protestante de Tempelhof.
Mas os párocos pretendem abrir a igreja para ``cerimônias especiais``, como cultos em 27 de janeiro, dia da liberação do campo de concentração de Auschwitz, em 1945. Outra data que será lembrada é 9 de novembro, quando ocorreu em 1938 a onda de ataques contra propriedades de judeus na Alemanha, conhecida como ``A Noite dos Cristais``.
O plano final é que a Martinho Lutero seja declarada patrimônio histórico da Alemanha e passe a receber fundos federais para manutenção. Mesmo que consiga ser reformado, o templo não voltará a abrigar serviços religiosos regulares. A nave é grande demais para o tamanho da comunidade protestante de Tempelhof.
Mas os párocos pretendem abrir a igreja para ``cerimônias especiais``, como cultos em 27 de janeiro, dia da liberação do campo de concentração de Auschwitz, em 1945. Outra data que será lembrada é 9 de novembro, quando ocorreu em 1938 a onda de ataques contra propriedades de judeus na Alemanha, conhecida como ``A Noite dos Cristais``.
Para saber mais sobre todo o desfecho da paixão protestante
por Adolf Hitler, acesse: http://fimdafarsa.blogspot.com.br/2013/09/o-nazismo-nasceu-do-protestantismo.html
Fontes:
Jornal do Brasil
26/03/2006;
BA Koblens R 43
11/478ª);
Instituto Umanitas Unisinos
Instituto Umanitas Unisinos
N. Micklem, O Nacional
socialismo e a Cristandade, Lisboa, 1940;
Stephen H. Roberts, The House That Hitler
Built, Nova Iorque, Harper & Brothers, 1938;
Prager
e Telushkin, p. 171;
Revista Isto É, N°
2144, de 10 Dez de 2010;
N.H. Baynes, Hitler's Speeches, Oxford, 1942;
Gedenkstätte Deutscher
Widerstand;